domingo, 29 de dezembro de 2013

Mantenha-se Afastado



Ed,
    Eu não vou pedir para você voltar e não quero que você me peça para voltar também. Passamos por muita coisa juntos, conhecemos um ao outro da forma como ninguém mais nos conhece. Superemos algumas coisas, outras fizemos de conta que superamos, mas sempre que podíamos estávamos remoendo aquilo. Não digo que nosso tempo juntos foi ruim, sabe foi bom, mas não foi maravilhoso.
     Você disse coisas que me magoaram muito, algumas por serem verdades que eu sempre evitei outras magoaram porque eu simplesmente me machuco muito fácil. Eu também disse coisas rudes, que talvez não precisasse ter dito, ou talvez devia mesmo ter dito porque quem sabe essas palavras mudem um pouco aqueles seus hábitos horríveis. 
     Nesse exato momento eu ainda te amo sabe, mas eu sei que se eu me manter afastada de você, se você se mantiver afastado de mim, vou conseguir esquecer, eu já fiz isso outras vezes. 
     Algumas vezes você vai ler algo que eu escrevi e perceber que mesmo não sendo diretamente direcionado à você, é para você. Mas nem por isso pense que deve conversar comigo, é só que eu preciso escrever para dar um fim às coisas.
    Nosso fim não foi culpa de uma pessoa só, ou de algumas pessoas como você costuma dizer, nosso fim foi simplesmente nosso culpa, que deixamos o fogo apagar, que nós acomodamos. Sabe aquele história de que se o amor entra na rotina ele acaba, pois é,  nos provamos que é verdade. 
   Sabe, quando eu estiver completamente recuperada vou te procurar para te dizer porque demos errado, vou te falar o que você fez de errado e te perguntar o que eu fiz de errado. Apesar de eu acreditar que já sei sua resposta.

Gaia

sábado, 28 de dezembro de 2013

Make a Wish!



    O ano de 2013 está dando seus últimos suspiros e 2014 está pronto para nascer. Nestes minutos finais corremos para cumprir nossas promessas para o ano de 2013, para esvaziar os armários, tirar aquilo que é excesso em nossas vidas, roupas, sapatos, acessórios, coisas que não usa mais, sentimentos desnecessários, até mesmo aquelas pessoas que não são mais tão importantes.
   Aproveitamos também para guardar tudo o que houve de bom, palavras doces, atos marcantes, aquele presente especial, momentos felizes, sentimentos bons e pessoas nos fizeram melhorar como ser humano.
   Mas é obvio que depois de fazer essa balanço sobre o ano que passou, encontramos certas coisas nas quais temos que melhorar, encontramos novas promessas para cumprir. Eu fiz a minha listinha e no final do ano, vou contar o que consegui e não consegui fazer.

1. Postar mais nos blogs. (Letrarse, Livrateria)
2. Parar de tomar refrigerante. 
3. Ler mais.
4. Arranjar um emprego.
5. Voltar para à academia.
6. Perder alguns quilinhos ;D
7. Me dedicar mais a faculdade.
8. Pensar mais em mim.
9. Ter mais liberdade.
10. Desacomodar-me.
11. Ser mais generosa. 
12. Ser mais organizada.


domingo, 10 de novembro de 2013

Irmandade - Capítulo 6

Tomei um banho rápido. Escolhi um vestido preto tomara que caia que se ajustava perfeitamente a minhas curvas e calcei um par de all star. Para dar um ar despojado. Prendi meu cabelo em um coque frouxo. Observei meu reflexo no espelho. Casual e sexy. Olhei no relógio. 19:30. Logo Adrien estaria ali. Fui até a cozinha, peguei uma peça de carne no freezer, abri alguns talhos na carne, encharquei-a com cerveja e coloquei-a no forno. Forrei a pequena mesa. Três pratos com talheres e três taças.
- Que cheiro estranho é esse?!
- Carne. - John surgiu na cozinha, usava uma calça jeans escura e uma camiseta preta. Seu cabelo estava molhado e uma pequena mexa lhe caia nos olhos. Delicioso. Essa era a melhor definição para ele.
- Seu amigo é humano?
- Não. Ele é um vampiro.
- Mas vampiros comem? Tipo nas historias eles só bebem sangue...
- Toda historia tem seu fundo de verdade, só o fundo. Como já lhe disse vampiros são como humanos, só que mais rápidos, inteligentes e bonitos. Um novato não precisa de comida porque o sangue tem tudo que ele precisa, mas com a idade necessitamos de um pouco de comida... É obvio que podemos ficar sem comer, mas acabamos por sentir falta de comer, é como respirar, não precisamos, mas mesmo assim fazemos...  Se te interessar no seu quarto tem uma estante com alguns livros, provavelmente tem algum sobre o assunto.
- Certo... Talvez eu dê uma olhada mais tarde.
A campainha tocou. Olhei no relógio. 19:50. Fui até a sala. Olhei pelo olho mágico. Só vi um sorriso branco e afiado. Abri a porta.
- Está adiantado.
- Não consegui esperar mais. Ver você me deixa inquieto. - revirei os olhos. Observei-o. Adrien tinha olhos castanhos, o brilho prateado estava ali. Sempre estava. Seus lábios carnudos, sempre estavam abertos em um sorriso caloroso. Suas presas tocavam seu lábio inferior. Seu cabelo preto ia até o ombro, levemente encaracolados. Sua pele era bronzeada. Costumava me lembrar um surfista. Era bem mais alto que eu, chutava que ele tinha uns 15 centímetros a mais. Seu corpo era malhado. Um  verdadeiro pedaço de mau caminho. Segundo as outras garotas. Para mim era atraente e quente.
- Aram sei.Vamos entre. - sai de frente da porta, para que ele pudesse passar. Assim que passou ao meu lado seu cheiro penetrou meu olfato, era um cheiro silvestre e quente. Era engraçado. Sempre. Em todas as definições minhas para ele, tinha o adjetivo quente. Abri um leve sorriso. Fui até a cozinha. Desliguei o forno. Era só para dar uma esquentada na carne. Não gostava de comida fria. Vir-me-ei. Adrien e John estavam se encarando.
- John este é Adrien, meu amigo. E Adrien esse é John, meu novato. - os dois trocaram um aperto de mão tenso. Revirei os olhos. Tirei uma jarra de sangue de dentro da geladeira e coloquei na mesa, uma garrafa de vodca e outra de uísque já estavam lá.
- Você teve bastante sorte garoto, ser um aprendiz dessa morena. - John soltou um riso irônico.
- Ou ele teve bastante azar. - resmunguei enquanto colocava a carne em cima da mesa.
- Se é para escolher, fico com o azar. A Valentina é meio... mal-humorada. - abri um sorriso para eles. Tinha que concordar com o garoto. Eu realmente era mal-humorada. E gostava de ser assim.
- Então está decidido, ele teve muito azar. Agora vamos comer? - Adrien assentiu e se sentou. John torceu o nariz.
- Não precisa comer. - disse enquanto cortava a carne mal passada. Tive que sorrir ao ver o sangue escorrer. Quando humana se visse aquela cena vomitaria por semanas e agora já estava salivando. John se sentou. Observou-nos comer enquanto conversávamos sobre amenidades e sobre as noticias do jornal.
- Val a comida estava deliciosa. - Adrien limpou os cantos da boca e observou a travessa vazia.
- Há  quantos dias não come? - resmunguei.
- Não faço à mínima ideia. - ele sorriu. Pegou os dois pratos e os deixou na pia, antes que eu o mandasse lavar, ele completou - Depois eu prometo que lavo, agora porque não sentamos na sala e conversamos? - Dei de ombros enquanto enchia uma taça de sangue com vodca.
- Desculpe a indiscrição, mas como você foi transformado? - a pergunta foi direcionada a Adrien que estava sentado ao meu lado, John estava sentado em outro sofá, em seu olhar estava à curiosidade estampada. 
 - Meu pai era um burguês inglês, tínhamos muito dinheiro. Nasci em 1880, fui um jovem libertino, bebia, jogava, ia a bailes e conquistava muitas garotas, até desonrei algumas. Quando completei 18 primaveras, jeito antigo de dizer 18 anos,  meu pai faleceu e eu era filho único. Herdei tudo, mas não tinha vocação alguma para negócios então vendi a industria e resolvi viajar pelo mundo. Em uma viajem para a França, em 1901, conheci Jolie, uma formosa francesa. Imagine minha surpresa quando ela sugou todo meu sangue e me transformou em um vampiro. Mas como bom boêmio, aproveitei a minha nova vida. Vivemos juntos por um tempo razoável. Um dia acordei e ela não estava lá, mas sim uma carta, dizendo que ela havia partido em busca de novos amores. Vendi a nossa pequena casa e cai na estrada novamente. Mas logo a farra acabou, porque as guerras mundiais chegaram. Uma historia um tanto tola e sem graça. - John ficou calado, a curiosidade em seu olhar foi substituída pelo espanto. Particularmente, a história de Adrien era a cara dele, não poderia ser diferente, ele sempre fora cheio de si e sempre conseguia aproveitar o melhor de todos os momentos. Um cara desencanado.
- Você tem 132 anos?! - Adrien e eu começamos a rir.
- Sim e sou considerado novo, um adolescente.
- Deus do céu! - era engraçado ver a descrença no rosto de John, seus olhos arregalados e sua boca levemente aberta. Adrien passou o braço por meus ombros.
- Mas quem tem uma bonita historia é a nossa amiga Valentina. - senti meu corpo se enrijecer. Não gostava de falar sobre o passado, porque ele sempre vinha acompanhado de uma pontada de dor.
- Não é bonita. É uma história típica de guerra. - minha voz saiu áspera.
- Por favor, Val! Eu gosto tanto da sua história. - revirei os olhos para Adrien que retribuiu meu olhar com um sorriso angelical, extremamente falso.
- Eu gostaria de ouvir. - o brilho de curiosidade havia voltado aos olhos de John. Suspirei e deixei as palavras fluírem. Abri a porta e deixe as lembranças tomarem um ar.
- Minha mãe era uma italiana casada com um alemão, viviam na Alemanha e eram judeus. Nasci em 1920, à filha do meio. Tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova. Logo veio a II Guerra Mundial e a caça aos judeus. Um dia meu pai e minha mãe nós mandaram sair de casa e ir para um casarão abandonado. Saímos pela porta do fundo ao mesmo tempo em que os soldados entravam em casa e levavam meus pais. Meu irmão sempre arranjava comida, vivíamos no sótão, um abrigo anti-bombas e antinazistas. Um dia no ano de 1940 meu irmão foi pego andando pelas ruas, o ouvi conversando com um soldado que o havia acompanhado até a casa, ele iria para guerra. Tornou-se minha responsabilidade cuidar de minha irmã, saía na calada da noite e roubava comida em um mercadinho perto da casa, fiz isso por um mês, até ser mordida por um vampiro, consegui ver minha irmã uma vez, depois caçadores a torturam e a mataram porque queriam saber onde eu estava. Em busca da tal vingança os cacei, eram 3 homens, matei 2 e o outro escapou, foi ai que conheci Adrien. Algum tempo depois a guerra acabou e meus pais voltaram para casa, encontraram uma carta minha dizendo que minha irmã fora morta, meu irmão estava na guerra e eu havia me suicidado, porque me considerava culpada pela morte dela. Eles sofreram muito, mas meu irmão estava vivo, acabaram aceitando os fatos e se mudaram para a Rússia, onde morreram em paz e onde até hoje meu irmão vive com 95 anos.
- É comovente como sua história é cheia de honra e bravura! - peguei minhas lembranças e as guardei novamente.

- É só uma história! Agora chega de falar sobre o passado, deixa isso para os museus.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Irmandade - Capítulo 5

- Caçadores?! - seus olhos estavam levemente arregalados e confusos. Essa parte definitivamente era a pior, tinha que dar uma explicação imparcial. Odiava os caçadores, carregaria meu ódio por eles durante toda a eternidade, mas não podia demonstrar isso para os novatos. Eu tinha que demonstrar que eles eram perigosos e ao mesmo tempo não soar como uma louca carregada de ódio. Tarefa difícil, levando em conta que eu sempre era uma louca cheia de ódio.
- É, caçadores, aqueles com armas e que caçam presas...
- Mas eles caçam o quê? - revirei os olhos e fiquei em silêncio. Estava quase chegando à garagem do prédio e não poderia parar no meio da rua e dizer para John o quanto sua pergunta fora idiota. Um pesado silêncio se formou. Ele ficou esperando uma resposta, mas algo me dizia que ele soube a resposta assim que fez a pergunta. Encaixei meu carro na garagem e olhei para John.
- O que você acha? Nós. Vampiros.
- Mas... por quê?
- Porque somos aberrações da natureza - fiz o sinal de aspas no ar. Ele ficou esperando que eu continuasse, quando percebeu que só arrancaria aquilo de mim resmungou e saiu do carro, o segui. Assim que saímos do elevador ele explodiu.
- Eu estou tentando tomar uma decisão, mas preciso ver os dois lados da moeda antes de tomá-la! E você não está ajudando nem um pouco! - ele fechou a mão em punhos, enquanto eu destrancava a porta em silêncio. Ele entrou feito um furacão e foi para o seu quarto.
- Esses garotos de hoje em dia têm um temperamento muito difícil para meu gosto. Preciso de um drinque. - joguei um pouco de vinho seco e sangue em uma taça e bebi enquanto organizava os novos mantimentos. Sangues A+, A-, B+. Disquei o número de Adrien, ele atendeu no primeiro toque.
- Finalmente Val! Esperei seu telefonema o dia inteiro.
- Eu estava trabalhando. Coisa que você deveria fazer.
- Mas eu faço, é só que gosto de escolher quem vou treinar.
- Aram sei... Então, você está na cidade?
- Uau... será que vai surgir um convite? Eu estou onde você quiser, gata.
- Eu não sou gata, a propósito essa palavra fica horrível quando vinda da sua boca...
- Prefere que eu use palavras de baixo calão? - ele soou levemente rouco, me fazendo abrir um leve sorriso, estava tentando ser sexy para cima de mim.
- Isso você guarda para as suas prostitutas.
- Vou guardar isso e outras coisas para elas... Se você quiser guardo para você também.
- Eu dispenso! Prefiro maiores... - ele riu para valer, quando ele conseguiu recuperar o fôlego continuei a falar - Você vive se convidando para vir aqui em casa, venha hoje. Farei uma carne mal passada com cerveja e tem sangue A+ para você beber com uísque.
- Estou em êxtase por esse convite! Eu e meu amiguinho vamos adorar ir.
- Pode jogar água fria no seu amiguinho, ele não vai fazer parte da festa. 
- Sobre isso a gente conversa depois...
- Tchau. Esteja aqui as 8. - desliguei o telefone. Bati levemente na porta do quarto de John, ele resmungou um "pode entrar". O quarto já estava naquela bagunça típica de garotos. O tênis jogado em qualquer lugar, as roupas novas emboladas no armário, que estava com a porta aberta, a cama desarrumada e havia alguns sacos de sangue vazio jogados pelo quarto.
- Isso é nojento! - resmunguei enquanto jogava uma meia suja para o lado e me sentava no mini sofá.
- Valentina... desculpe... eu fui meio grosso agora pouco... é que tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que estou prestes a explodir... - ele estava sentado na beirada da cama, seu cabelo negro estava todo bagunçado - Eu não sei o que fazer!
- Tudo bem. Se você soubesse o que fazer, seria algo inédito. - soltei um suspiro - Vou lhe falar sobre os caçadores, de forma simples o resto você descobrirá ao longo de sua existência. Quando o primeiro vampiro surgiu, surgiu o primeiro caçador. Dizem que era um padre, ou algum fanático religioso. A maioria dos caçadores são homens, que perderam algum ente querido para o lado vampiro ou algum religioso fanático.  Não existem nômades neste grupo. Todos eles se organizam em um grupo chamado Ordem dos Caçadores.
- O quanto isso é perigoso para humanos que sabem da nossa existência? -pensei no rosto contorcido pela dor de minha irmã.
- Antigamente era bem pior, hoje podemos proteger essas pessoas. Mas ainda sim eles são perigosos, se alguém conhece ou ajuda um vampiro, aos olhos dos caçadores esse alguém se tornou um vampiro.
- Desculpe a indiscrição, você já enfrentou algum caçador?
Estava cega pela morte de minha irmã. A imagem dela agonizando de dor enquanto morria, não me saia da cabeça. Sai pelas ruas caçando aqueles três homens. Eles iam pagar. Corria com todas minhas forças. Escondida pela escuridão noturna e a chuva forte. Sabia como era o sabor deles. O cheiro deles havia ficado impregnado na casa. Não via nada. Eram só borrões frios. O cheiro dos homens chegou até mim. Parei. Observei a minha volta. Havia barracos por todos os lados e um bar. Estava em uma das periferias da cidade. Aproximei-me da janela lentamente. Poucos homens estavam lá, a maioria eram velhos e alguns homens impossibilitados de guerrear. Em um canto escuro, havia três homens, um deles olhou em volta, quando seus olhos passaram pela janela vi o brilho violeta. Eram eles. Resolvi esperar que eles saíssem e depois armaria uma emboscada. Alguns minutos depois. Ou algumas horas depois. Não conseguira pensar no tempo, nem no desconforto de ficar em pé em frente a uma janela tomando chuva. Eles saíram. Rindo alto. Levemente alcoolizados. Eles se quer me notaram, enquanto os seguia. Eles entraram em uma viela escura. Fizeram uma curva para direita, quando me virei atrás deles, dei de cara com um muro extremamente alto. Eles haviam sumido.
- Procurando por nós?! - me virei os três estavam parados, com armas apontadas para mim. O de olhos violeta estava no meio. Em silêncio. Os outros dois riam.
- Vocês mataram minha irmã! - rugi enquanto corria em direção ao que estava na ponta, o mais baixo e magro. Um tiro atingiu de raspão em meu braço. Joguei a arma para o chão e torci seu pescoço. Tudo isso só havia dado tempo para que o do outro lado destravasse a arma. Dei um soco em seu peito, enquanto com a outra mão jogava sua arma no chão. Senti suas costelas estalarem. Ferozmente torci seu pescoço e ele caiu no chão. Afastei-me. O cara de olhos violeta ainda estava parado me observando.
- Muito inexperientes esses garotos. - e depois sorriu - Você é boa, uma vampira que iria tocar o terror, pena que você deu de cara com o melhor caçador. - ele riu, enquanto sua faca caia no garoto ao seu lado. O cheiro doce me infectou. O sangue brotou. Logo me vi abaixada ao seu lado. Meus dentes doíam - Sua irmã era uma garota forte. Só gritou quando lhe arranquei as unhas.
A sede e o veneno que ele havia despertado ecoaram dentro de mim, fiquei em pé e me virei para ele. Um sorriso debochado formado em seu rosto. Ele agora tinha uma arma apontada para mim. Ele atirou. O tiro atingiu meu ombro. Ele sangrou. Uma dor aguda percorreu todo meu braço. Observei o buraco. Esperando ver a cicatrização. Mas ele continuava a sangrar e latejar.
- Balas para vampiros. Uma mistura de prata com sal. Ótimo para ferir. - corri em sua direção, antes que ele atirasse. Preparei meu punho para lhe dar um soco, mas antes que minha mão estivesse fechada já havia lhe acertado. Ele gritou. Minha unha havia perfurado seu olho esquerdo. Ele segurou meus cabelos.
- Sua vadia! Você me cegou. - ele me jogou no chão com toda força que tinha. Algo afiado foi enterrado em minhas costas. Tentei me mover. Mas meu corpo estava paralisado. Ouvi os passos apresados do homem. A chuva caia em meu corpo, dando uma sensação de frieza incomparável. Meu rosto estava enfiado na lama. Ouvi passos. Tentei me mover. Não consegui. Meu ombro latejava. Alguém parou ao meu lado. Tinha a pulsação acelerada demais para um humano. Algo deslizou por minhas costelas. Senti meu corpo relaxar e voltar a se mover. Pulei de pé, pronta para enfrentar o que estava ali. Mas era só um garoto de sorriso maroto.
- Oi, eu sou Adrien.
Afastei as lembranças de minha mente. Foco Valentina!
- Já... várias vezes. Mas depois te conto sobre isso, agora, como já lhe disse, um amigo meu vai vir aqui e preciso arrumar algumas coisas.
- Amigo? - sua voz soou surpresa.
- É. Não é porque eu sou vampira que não posso ter amigos. E porque você não dá uma ajeitada no seu quarto. Isso tá nojento! - fiquei em pé e sai do quarto.
-Tá parecendo minha mãe! - ouvi ele resmungar.

-Eu ouvi! E não tenho idade para ser sua mãe, quem sabe sua bisavó? - ele gargalhou.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Tic, Tac


Tempo,

     Você é um velho amigo, o primeiro a me ver ao nascer, e sempre esteve ao meu lado. Me ajudou tanto e me fez sofrer tanto. Cuidou de minhas feridas e abriu novas feridas. Me ensinou coisas e me fez esquecer coisas.
     Você que me conhece tão bem, mas que eu não sei nada sobre, a cada dia você se mostra igual e ao mesmo tempo diferente, sempre passando, nunca para, nunca voltar, sempre seguindo em frente. Às vezes passa assustadoramente devagar, como quando estou esperando em uma fila, e às vezes passa assustadoramente rápido, como aquele beijo que tanto esperei. Mas você passa, sempre.
    "TIC, TAC, TIC, TAC, TIC, TAC, o seu  tempo está correndo, TIC, TAC, TIC, TAC, TIC, TAC, o seu tempo está passando, TIC, TAC, TIC, TAC, TIC, TAC." É só isso que você sabe dizer.  E nunca responde minha pergunta, "Como é continuar, mesmo quando as coisas acabam?"
     Algumas vezes eu quis te parar, mas você quis continuar a sua maneira. Algumas vezes eu quis te voltar, mas você quis continuar a sua maneira. Algumas vezes eu quis te fazer andar mais rápido, mas você quis continuar a sua maneira. Agora eu posso sentir que  estou muito perto do fim, e me perguntou se você, acabará ao mesmo tempo que eu?  Ou você seguirá seu caminho, impassível e implacável?

Passado

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Nossa História


Teresa,
 
    Lembra-se de quando nós vimos pela primeira vez? Eu estava de férias na sua cidade natal, sua melhor amiga namorava meu primo e eles nós convidaram para irmos a sorveteria; você usava um vestido verde claro com bolinhas brancas e tinha os cabelos negros soltos, e quando você sorriu pela primeira vez, eu me apaixonei.
    Passamos toda minhas férias juntos, nadando na cachoeira, tomando sorvete, indo ao cinema, fazendo piqueniques. Você me chamou para ser o seu par no baile de início das aulas, e eu aceitei. Fiquei deslumbrado quando passei na sua casa para te pegar, você parecia uma princesa usando aquele vestido longo rosa claro, seu cabelo preso em um elegante penteado. E enquanto dançávamos eu me declarei, e, para minha surpresa você me beijou.
    Quando minhas férias acabaram e tive que voltar, te prometi que voltaria sempre que desse, você não acreditou, mas eu voltei dali duas semanas. Seus pais não gostavam muito de mim, mas mesmo assim continuamos juntos e enfrentamos tudo juntos. Nesses anos separados trocamos tantas cartas... eu as lia e relia sempre. Em três anos terminei a faculdade e voltei para te buscar.
     Nos casamos em uma manhã ensolarada de janeiro. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida, ver você caminhando em minha direção vestida de branco, seus olhos azuis brilhando, sua voz doce dizendo que "sim" para o padre. Você se lembra?
     Não posso dizer que a vida de casados foi fácil, passamos por muitos problemas, mas conseguimos ser felizes e criar nossos três filhos. Os três presentes que ganhamos de Deus, o maior símbolo do nosso amor.
     Lembra-se de como costumávamos sentar todos os dias na varanda e ficar conversando, ou lendo, ou escutando música, ou simplesmente em silêncio de mão dadas vendo o pôr do sol. E entre um pôr do sol e outro nossos cabelos foram ficando brancos, nossa pele enrugada, nossa voz trêmula, mas você ainda tinha o mesmo olhar de menina.
    Hoje você não está mais sentada aqui comigo, a cadeira ao meu lado está fria. Nossa casa ficou tão sem vida, sem você cantarolando, dançando e respirando. Sinto tanto a sua falta. Mas eu sei e espero ir logo ao seu encontro e poderemos seguir felizes. Porque mesmo quando eu morrer, vou morrer amando você.


Com todo amor do mundo, Téo   

sábado, 27 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 4

Dois dias. O tempo que transcorreu desde que minha vida mudou completamente. Em um dos raros momentos de lucidez que tinha lembrei-me de minha irmã mais nova. Ela estava escondida no porão de uma casa abandonada. Assim como nossos pais haviam ordenado. Corri para casa. Precisava saber se ela estava bem.
- Tina! Estava tão preocupada com você! - ela me abraçou. Ouvi sua pulsação. Agradeci por ter encontrado um andarilho no meio da rua e tomado seu sangue. Antes ele do que minha pequena irmã.
- Catrina, querida, tive problemas, mas eu estou bem. Senti sua falta! E adivinha? - levantei a mão. Havia roubado uma pequena mercearia. Já que estava no fundo do poço, não havia porque ser honesta. Meus pais haviam deixado eu e minha irmã sob responsabilidade de meu irmão. Mas ele havia sido tirado de casa para lutar ao lado dos alemães. Obvio que eles não sabiam que meu irmão era judeu. E agora era meu dever cuidar dela - Comida para você.
Ela pegou o saco com um enorme sorriso no rosto. Fiquei feliz por ela estar feliz. Enquanto ela comia um pão, troquei de roupa rapidamente.
- Você não vai comer?
- Já comi. - respondi rapidamente. Não havia conseguido comer nada, só queria o líquido quente, viscoso e escarlate. Sentei-me em um pequeno sofá, logo ela se sentou ao meu lado e encostou sua cabeça em meu ombro.
- Como está lá fora?                                                 
- Ruas escuras, pessoas passando fome, pessoas cobrando absurdos por um pão e ouvi falar que os soldados estão vindo para a cidade.
- E nossos pais? Alguma notícia? - a resposta era sim, mas resolvi ficar calada. Às vezes era melhor ficar na ignorância do que descobrir a verdade.
- Nenhuma querida... - observei que seus olhos brilharam, estava prestes a chorar - Mas, ouvi falar que alguns soldados vão ter permissão para visitar a família. - ela me olhou, um sorriso enorme surgiu em seu rosto. Preferi não lhe contar que talvez nosso irmão não viesse junto.
Acabamos pegando no sono. Acordei com um barulho ritmado e irritante. Olhei para Catrina, "via" o sangue pulsando dentro de suas veias. A sede e a fome eram enormes. Levantei-me rapidamente.
- O que houve? - ela parecia assustada.
- Tenho que ir. Prometo que voltarei!
Meu coração se apertou quando essa lembrança invadiu minha mente. A afastei rapidamente de minha cabeça, não podia ser fraca. Aquilo havia ocorrido há muito tempo. Tempo demais. Não deveria me afetar.
- Você tem duas escolhas... Posso ajudá-lo, mas a decisão será sua.
- E quais são essas escolhas? -
- Primeira, dizer que você está morto. Segunda opção, envolver ela nessa loucura.
- Não se importam se humanos souberem da existência de vocês?
- Você quis dizer da nossa existência - ele deu de ombros - Caso a pessoa saiba guardar segredos e conviver com isso... Quantos anos ela tem?
- 28.
- 28... ela deve estar casada..
- Sim, e está grávida de gêmeos.
- Gêmeos! Pobre mulher... Você a envolveria nessa confusão? Sangue, predadores, etc. - ele abriu a boca para responder - Não precisa responder agora. Pode pensar, depois conversaremos sobre isso. – dirigi um pouco e logo estacionei na garagem de um hospital. Pelo elevador fui até a recepção. John havia ficado no carro, disse que ele devia ficar pensando, mas temia pela vida dos pacientes na sala de espera do consultório.
- Olá, boa tarde. Preciso falar com a Diana. - delicadamente empurrei uma nota de cem para a garota - É urgente. - ela pegou a nota e discou para um número.
- Siga no corredor, a última porta é a dela. - sorri delicadamente.
- Valentina! Voltou rápido, deve fazer uma semana que veio aqui. - ela apertou minha mão. Vampiros evitavam se aproximar demais de humanos. Diana era uma médica que nós "alimentava". Ela vendia sangue.
- Tive uma visita inesperada. Preciso de um pouco mais, não muito, porque vou tirar férias em dois dias. - ela fez um gesto afirmativo com a cabeça e ficou em pé. Seguimos por um corredor e entramos em uma sala refrigerada. Ela pegou quinze sacos de sangue e colocou em uma bolsa térmica. Fiz um cheque com uma alta quantia para que ela repusesse o que havia sido retirado. - Obrigada. Nós vemos por aí.
- De nada. É obvio que nós vemos. - ela sorriu desdenhosa. Pensei em respondê-la, mas preferi ficar de boca fechada, não valia à pena. Peguei a bolsa térmica e saí. John ainda estava no carro, ele estava procurando uma estação de rádio.
- Esta estação que você ouve é meio ruim.
- Eu escuto CDs. - me debrucei levemente sobre ele para abrir o porta-luvas, peguei o porta CDs e lhe entreguei. Ele observou os discos enquanto voltava para a rua movimentava. Escolheu um de rock clássico.
- Para onde vamos agora? - observei o relógio. 17:00.
- Meu apartamento. Um amigo vai nos visitar. - um silêncio se formou, passamos por um grupo de jovens, os olhos de John brilharam de desejo. Aumentei a velocidade do carro. Ele desviou o olhar e me fitou.
-  Antes de tomar minha decisão em relação a minha irmã, quero saber sobre os tais perigos...
Estava na rua da casa que minha irmã estava escondida. Fazia dois dias que havia ido visita-lá. Ouvi uma porta se abrir. Escondi-me em um beco. Três homens saiam da casa. Meu coração disparou. Rezei para que eles não tivessem feito nenhum mal a minha irmã. Eles passaram por mim. Todos usavam roupas pretas. Um deles olhou para o beco. Parecia ser bem jovem. Tinha olhos violetas. Ameaçadores. Aqueles olhos se gravaram em minha mente. Quando eles sumiram na esquina corri para casa. A porta estava arrombada.
- Catrina?! Cadê você?! - desci as escadas até o porão, onde era para ela estar. A encontrei encolhida em um canto escuro. O cheiro doce invadiu meu olfato. Controlei minha sede. Havia enormes cortes por todo corpo dela. Faltavam duas unhas.
- Tina... - sua voz soou tão baixa e dolorida, que me deu vontade de chorar.
- Shii.. - coloquei meu dedo em seus lábios. Havia sangue neles. A peguei no colo. Delicadamente a deitei no sofá.
- Eles estavam te procurando... por favor se proteja...
- Querida, não diga nada... guarde suas forças... eu vou chamar um médico... - ela não me deixou terminar.
- Eles disseram que você era uma aberração... que havia se tornado uma vampira... que iam te matar! - ela observou meus olhos verdes sendo tomados pelo prata, depois meus lábios onde as presas tocavam meu lábio inferior - Eu não me importo. Você ainda é minha irmã, minha protetora - ela respirou profundamente e soltou um gemido por entre os dentes - Só me prometa que vai ficar viva.
- Desculpe Cat... eu devia estar aqui... devia ter te protegido! - um pequena lágrima rolou em meu rosto.
- Tina... - ela engasgou, um pouco de sangue saiu por sua boca - Você não teve culpa... só me prometa...
- Eu te prometo querida. - ela sorriu e depois começou a tossir desesperadamente, vomitando sangue. Apertei sua mão. Rezei para um Deus que a cada dia duvida mais que existia. De repente ela parou. Sua respiração e pulsação diminuíram até se tornarem inexistentes - Catrina...
Aquelas lembranças eram dolorosas demais. E fiquei agradecida por ter voltado à realidade.
- Lembra-se de que eu disse que existem 3 lados ruins? - ele balançou a cabeça - O primeiro lado e ter que viver de sangue, apesar de que com a idade você consiga comer, mas o sangue sempre vai ser o seu alimento principal. O segundo é que você provavelmente vai ver todos seus familiares morrer. E por último a pior parte, os caçadores.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Carta Não Enviada



Querido,

    Faz muito tempo desde a última vez em que nos vimos. Não que eu me sinta mal por causa disso. Deve ter ouvido conversas fiadas sobre mim e sobre os bares de quinta que andei frequentando. Deve ter ouvido o quanto bebi, o quanto falei, o quanto dancei e o quanto chorei. Você me conhece bem. Sabe que bebo para me distrair, para esquecer um pouco da vida corrida e dos acontecimentos desagradáveis. Sabe que o que falo é o que fica preso no meu "filtro mental", que são as coisas que penso e que não devo dizer. Sabe que quando danço é para disfarçar meus paços trôpegos de tanto álcool já existente na minha corrente sanguínea. E sabe que sempre choro depois de beber uma quantidade considerável, sempre por motivos que nem eu mesma sei dizer. Mas depois de achar que já estava no fundo do poço, já dizia o velho Bukowski, descobri que podia ir ainda mais fundo. Digo isso porque descobri o porque acabou. Porque você não suportava minhas manias e mudanças de humor constante. Não entendia minha alegria por cuidar de animais de rua, já que dizia que eu não conseguia cuidar nem de mim mesma. Não aguentava minha necessidade de liberdade. Não queria saber das minhas crises de choros e nem dizia, nem que fosse só para me acalmar, que ficaria ali comigo e que eu não teria com o que me preocupar. Não entendia também, minhas súbitas vontades de ficar sozinha ou de quando não conseguia ficar um minuto longe de você. Você tinha medo da minha absurda coragem de fazer as coisas sem planejar e sem ligar se dariam certo ou não. Descobri que você tinha medo de mim. E descobri que você não era tudo aquilo que eu queria. Rotina e organização era o título da sua agenda 2011. Rotina não é para mim e minha organização é tão bagunçada como meu armário.     Um ano se passou e ainda não entendi o porque eu fui tão cega por ficar com você. Não estou mais no fundo do poço, agora seguro firme o balde para pegar água. Hoje sinto que não fez diferença ficar com você, só aumentou minha experiência de paixões imaginadas. Se me perguntam sobre você, a sensação é de como se você fosse uma pessoa que conheci na rua e nunca mais vi. 

Sem ressentimentos, 
Alice.


Vi no blog Nepente (angelaguidi.blogspot.com), de um passadinha lá ;D

terça-feira, 23 de julho de 2013

Razões do Fim


Carla,

    Acho que você nunca entendeu realmente porque nos afastamos, porque nossa amizade acabou. A gente vivia juntas, nos falávamos todos os dias, tínhamos tantas coisas em comum e aos poucos nos afastamos e deixamos de nos falar.
     Por isso resolvi te escrever essa carta, para te explicar o porquê.  Eu sempre te contava tudo, o que havia acontecido no meu dia, meus medos e anseios. E acreditava que você também fazia o mesmo, mas descobri que você escondia muitas coisas de mim. Fiquei brava com essa sua atitude, porém resolvi relevar, afinal certas coisas não são fáceis de ser ditas ou contadas.
     Sou o tipo de pessoa que quando se importa com alguém, liga atrás, puxa conversa no facebook, chama para sair, enfim eu corro atrás, mas tenho uma necessidade que também corram atrás de mim de vez em quando, e eu senti essa necessidade em algum ponto da nossa amizade, deixei de te ligar ou te procurar, esperando que você viesse atrás de mim, (sim, eu sei que pode parecer infantil, mas eu tenho sentimentos infantis, quem não tem?), mas você não veio, estava envolvida com o seu novo namorado (sim, eu tive ciúmes dele).
     E por último fiquei sabendo que você andou falando da minha vida e da vida de pessoas próximas a mim, para quem não devia e acabou por dificultar minha vida. E eu pensei, "que tipo de amiga faz isso com a outra?".
      Sei que talvez esses três motivos podem não parecer suficientes para deixar a nossa amizade acabar, mas você me conhece sou a rainha do "dramalhão mexicano" e quando ponho uma ideia na cabeça é difícil tirá-la de mim.
     Quero que você saiba que apesar de tudo, eu ainda me preocupo com você e me importo. E também, às vezes, sinto saudades.

Ana

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Precisa-se De Uma Família




Luciano Hulk,

    Me contaram que o senhor arruma a casa das pessoas, não sei se é verdade pois os garotos que moram comigo gostam de me pregar peças. Mas não custa nada tentar.
   
   Meu nome é Gabriel, tenho seis anos e moro em um orfanato com mais um monte de meninos e meninas de todas as idades. Aqui também tem várias tias, que cuidam da gente, tem a tia Ana que faz comida, tem a tia Maria que limpa tudo, a tia Lívia que ajuda a gente com os deveres de casa, e que também está escrevendo a carta para mim, já que não sei escrever ainda, a tia Letícia que conversa com as pessoas que veem adotar a gente, e outras tias também.
   Não sei  quem é meu pai e nem minha mãe, a tia Lívia disse que vim para cá ainda bebê, e que nem certidão de nascimento eu tinha. Mas sempre quis ter um pai e uma mãe, e um cachorro, e outro cachorro talvez, e um irmãozinho para brincar, e brinquedos só meus, sabe queria ter o que se chama de família.
   Quando me contaram que o senhor arrumava a casa dos outros, pensei que quem sabe, algum dia o senhor encontre alguma família que quisesse ter um filho, aí o senhor podia falar para eles me adotarem.  As tias dizem que sou um bom menino, não brigo muito, não costumo xingar muito também, sou estudioso só tiro notas altas. Tenho certeza que vão gostar de mim...
   


                                                                                                                                    Gabriel

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 3

- Pode... O duro é você conseguir.
- Você já tentou? - ele parecia curioso.
Eu havia me tornado um ser mítico. Um vampiro. Um monstro, que vivia de sangue. Meus pais haviam se sacrificado por mim. E eu me tornara um monstro. Peguei uma faca. A mais afiada da cozinha. Enfiei-a em meu peito. Direto no coração. Senti uma ardência. Havia um pouco de sangue. Mas não veio morte alguma. Retirei a faca. Havia a marca de onde ela havia sido enfiada. A cicatrização foi instantânea. Desesperada tentei o veneno. Mas não fez diferença alguma. Peguei a arma de meu pai na gaveta. Atirei na cabeça. Só senti uma leve dor de cabeça que passou rapidamente. Corri para fora da cidade, havia um penhasco aos redores dela. Joguei-me. Senti todos meus ossos se quebrarem, mas a morte não veio. A dor da cicatrização era intensa. Algumas horas depois já estava inteira. Não estava morta. Só tinha muita fome.
 - Tentei. Várias vezes... Não consegui obviamente.
- Mas deve existir um modo...
- Sempre existe... mas não vou lhe contar. Não gosto de ser responsável pela morte de novatos. - o sol começava a nascer no horizonte. Ficamos em silêncio. Quase podia ouvir a cabeça dele. Os pensamentos deveriam ser uma confusão e rápidos demais. A fase de revolta/depressão, havia sido rápida e agora ele ia entrar na aceitação.
- Quem era aquele cara? Porque ele ajuda os vampiros? Nós somos monstros!
- O Victorio? Ele é um dos poucos humanos que sabem e ajudam os vampiros. A filha dele é uma vampira, Franciele, ele a viu sendo transformada e a ajudou a passar por tudo. Um homem bom.
- Pobre homem... Sabe você parece conhecer bastante sobre os vampiros...
- É... eu conheço. - disse de modo vago enquanto entrava na garagem. Subimos até meu apartamento - Tem um quarto para você com banheiro e tudo mais - destranquei uma porta que ficava quase invisível na sala - A cama está arrumada. Sinta-se a vontade. Tem sangue na geladeira, mas não beba tudo. Eu vou tirar um cochilo, mais tarde tenho coisas importantes para fazer. 
- Vampiros dormem?
- Somos como humanos, só que mais bonitos, rápidos, inteligentes e nos alimentamos de sangue... Você logo verá que essa vida tem muitos lados positivos, só existem 3 lados ruins... Outro dia te explico, porque agora estou cansada - soltei um bocejo - Não se esqueça do vaso quebrado no chão da sala! - gritei enquanto me encaminhava para o meu quarto.
Tranquei a porta. Isso pode retardar um ataque inimigo e me dar tempo para fazer uma estratégia de fuga, apesar de que a estratégia estava perfeitamente decorada em minha cabeça.
Parei em frente à penteadeira e observei meu reflexo no espelho. Minha pele clara contrastava com meus cabelos negros de tamanho mediano, não eram compridos e nem curtos, lisos, repicados de forma desordenada e tinha a pequena franja sempre jogada para o lado. Meus olhos verdes continham um brilho prateado, me lembrando do que tinha dentro de mim. Tinha lábios carnudos, nariz bem feito. Meu rosto tinha um aspecto delicado, apesar de nunca ser delicada, era considerada forte entre todos, às vezes era chamada de durona e até de mal humorada. Mas essa era minha proteção, uma menina criada por uma família de judeus no período do nazismo deveria ser assim.
Abri a porta de meu armário, abri um espaço entre as roupas que estavam dependuradas, tateei a parede a procura do pequeno puxador que havia escondido ali. Sem resistência alguma a porta se abriu. Uma pequena luz no teto do armário foi acessa, era ali que escondia minhas armas, revólveres, pistolas, adagas e até um pequeno arco e flecha. Peguei uma adaga. Em seu cabo tinha esculpido um pequeno anjo do lado direito e do lado esquerdo havia um pequeno pentagrama. Essa fora a primeira arma que havia ganhado. Era especial para mim. Fechei a porta. Coloquei a adaga em baixo de meu travesseiro. 
Uma claridade idiota batia em meu rosto insistindo para que eu acordasse. Amaldiçoei-me mentalmente por não ter fechado a cortina quando fora dormir e também amaldiçoei o dia por estar tão ensolarado. Meu humor não combinava com sol, preferiria um dia nublado, assim teria uma desculpa para meu mal humor.
Virei o rosto para o lado e olhei o relógio. 13:05. Espreguicei-me feito um gato, joguei as cobertas no chão. Caminhei sonolenta até o banheiro e joguei uma água no rosto, para ajudar a despertar. Ouvi algo metálico cair, vinha da cozinha. Peguei minha adaga, destranquei e abri a porta. Dei de cara com John revirando um dos meus armários. Havia me esquecido completamente que havia um novato em meu apartamento. Ele se virou e me encarou assustado. Observei a adaga em minha mão. A abaixei e coloquei-a na mesinha ao meu lado.
- Desculpe! Isso é só... prevenção.
- Ok! Bom dia então.
- Bom dia por quê? Eu acordei, não é um bom dia. - ele revirou os olhos e depois voltou a me encarar, desta vez havia desejo em seus olhos, abaixei o olhar. Estava usando uma mini camisola preta que deixava minhas pernas a mostra, era transparente na barriga e tinha um belo decote - Não está acostumado com mulheres? Não me vá dizer que é um puritano! Não precisa responder, vou me trocar. - dei alguns passos para trás, não achei seguro virar de costas, se ele havia agido assim de me ver de frente imagina de costas, onde toda a camisola era transparente e metade de meus quadris ficava amostra. 
Vampiros eram seres considerados sexuais, algo envolvente, acredito que tenha haver com o sangue e a imortalidade. Quando mais velho um vampiro ficava mais bonito se tornava. Demorei um pouco a me acostumar com isso. Beleza, sexo, luxuria era algo comum entre os vampiros. Antes de me tornar uma deles, era uma garota recatada, cheia de modos e pudores, mas a vida me ensinou a agir de acordo com a ocasião e com quem convivia. Agora para mim toda essa luxuria era tão normal quando ter um estoque de sangue na geladeira.
Procurei por roupas casuais e impactantes. Escolhi uma calça jeans preta, que se ajustava perfeitamente ao meu corpo, regata preta com um leve decote e bem colada ao corpo e uma sapatilha lilás. Voltei a sair do quarto. John evitou me olhar, continuou a tomar seu sangue, desta vez em um copo, de forma mais civilizada. Isso é bem irônico.
- Como passou a noite... - olhei para a janela e me corrigi - manhã?    
- Acredito que bem... apesar de tudo ser tão estranha. Ah, assim que você foi dormir limpei o vaso quebrado da sala, então pare de falar dele. Depois acabei dormindo. Acordei agora e vim procurar comida.
- Ótimo. - peguei uma taça, misturei sangue com vodca.
- Você sempre toma sangue com bebida alcoólica? Até no café da manhã? - sorri de forma desdenhosa.
- 3 coisas. 1ª fica muito melhor. 2ª vampiros não ficam bêbedos. 3ª agora está mais para almoço do que para café da manhã. - ele revirou os olhos e deu de ombros - Experimente. - estendi o copo para que ele pegasse.
- Não obrigado.
- Não estou oferecendo, estou mandando. - ele virou de costas e despejou um pouco mais de sangue em seu copo. Antes que ele  me impedisse coloquei uma dose de vodca junto com o sangue - Experimente, caso não goste te deixo em paz. - ele bebeu.
- É bom... mas prefiro puro. - Homens eram tão orgulhosos. Terminei meu drinque.
Observei o meu estoque na geladeira, estava baixo. Há muito tempo vivia sozinha, tinha me esquecido como um novato bebia muito sangue. Esse devia ter sido o motivo para o estoque ter diminuído vertiginosamente.
- Andou fazendo lanchinhos durante a noite. - ele me olhou, mas não disse nada - Vamos sair... tem alguma roupa para vestir? - observei a camiseta e calça amassadas que ele estava usando.
- Que pessoa que carrega outras roupas, pensando que precisaria porque poderia me tornar um vampiro?
- Bom ponto de vista. - resmunguei enquanto entrava em meu quarto, abri o armário havia algumas peças de roupas masculinas nele. Escolhi uma camiseta azul escuro e calça jeans, voltei para a cozinha - Veste isso.
Ele olhou as roupas e depois sumiu dentro do quarto dele. Em dois minutos ele já estava pronto.
- Pelo visto a roupa serviu. - peguei a bolsa e as chaves do carro – Vamos. – ele ficou de pé e me seguiu, dirigi até uma ruela escura onde raramente haviam pessoas transitando. John me olhou, havia um misto de medo em confusão em seus olhos.
- Que lugar é esse? O que viemos fazer aqui? – abri um pequeno sorriso. Abri a porta do carro e sai. Ele continuou no carro me olhando de forma desconfiada. Todas as casas eram iguais, tijolos a vista, portas de ferro enferrujadas e as janelas estavam, em sua maioria, quebradas ou coberta por jornais. Bati em uma das portas que foi entre aberta.
- Quem?!
- Sou eu, Valentina. – a porta foi aberta e uma mulher alta de cabelos vermelhos surgiu – Olá Gabbe.
- Oi, Val. Veio comprar roupas para você?
- Não é para meu novato. – apontei para o carro. Ela sorriu.
- Um verdadeiro pedaço de mal caminho. – chamei John com a mão.  
- John essa é Gabbe, Gabbe John. Ela é uma vampira e vai te ajudar a comprar algumas roupas. – Gabbe o segurou pelo braço e o arrastou para dentro da loja.
 A loja era toda branca e tinha uma parede pintada de preto. Havia várias araras cheias de roupas, de todos os tamanhos e cores. Confortáveis sofás pretos, com uma mesinha de madeira escura ao lado, que sempre tinha uma jarra cheia de sangue, taças e revistas.
John escolheu algumas camisetas, calça jeans, bermudas e um tênis. No caminho de volta pra casa ele permaneceu calado por todo o trajeto.
- O que houve?

- É minha irmã... Ela nunca vai saber sobre mim?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lembranças



Luci,

   Lembra de quando fizemos aquele piquenique na praça perto da sua casa? Lembra da vez que pintamos todo seu apartamento de branco, para você usá-los como tela? Lembra de quando pulamos de paraquedas juntos? Lembra de quando fomos ao show do Lenine? Lembra do ano novo que passamos naquele rancho afastado de tudo, só nós dois? Lembra daquela festa em que eu fiquei bêbado demais? Lembra das vezes que você cuidou de mim quando eu estava de recassa? Lembra de quando fomos à praia e você ficou tão queimada que eu não podia nem te tocar? Lembra de quando eu tentei te ensinar a andar de skate e você caiu e ralou o joelho? Lembra daquela nossa briga em baixo da chuva, que para te fazer parar de gritar eu te beijei? Lembra dos beijos que trocamos? Lembra do nosso aniversário de 2 anos de namoro, no qual eu enchi seu apartamento de pétalas de flores e comprei comida Italiana para nós? Lembra dos nossos planos? Lembra da música que compus para você? Lembra das nossas viagens? Lembra dos nosso momentos juntos? Lembra de nós? Lembra que você costumava me amar? Lembra que chegamos a acreditar que seria para sempre?

    Eu me lembro todos os dias.
Victor 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

On The Road



Queridos Pais,

   Vocês sabem que eu sempre fiz de tudo para ser perfeita, tentei sempre ao máximo não cometer erros e não magoar vocês. Sempre deixei que vocês regrassem minha vida, cada passo que eu dava vocês sabiam as razões e onde eu queria chegar.
   Deixei de viver certos momentos da minha vida porque vocês acharam melhor eu não viver, me proibiram, me deixaram ver a vida passar sem fazer parte dela.  Nunca lhes disse isso, mas estava sufocando.
   E esse "sufocamento" chegou ao seu ápice alguns meses atrás. Então resolvi viver! Não sei se vocês já leram aquele livro: On The Road, em que dois amigos resolvem viajar pelos Estados Unidos, buscando liberdade, e é isso que quero fazer; viajar, conhecer pessoas novas, culturas novas, emoções novas, sensações novas, encontrar o meu verdadeiro eu, encontrar a minha liberdade.
   Então, peguei minhas economias, aquelas que juntava sem saber o porque, bom eu descobri, comprei uma passagem para o Peru, sempre quis conhecer Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas.
   Fazem três semanas que saí de casa sem me despedir, sabia que se falasse com vocês, iam se mostrar contra e tentar me fazer desistir. Sei que ficaram muito preocupados quando encontraram meu quarto vazio e só uma pequena nota em cima de minha cama:
      "Fui em busca de minha liberdade! Assim que der mando notícias. Amo vocês."
    Aqui no Peru conheci uma cultura tão diferente, pessoas tão diferentes, até aprendi um pouco da língua local, a quechua. Estranhei um pouco a comida aqui, parece que quase tudo  tem frutos do mar, algo que nunca fui fã. Fiz algumas amizades, a menina que divide o quarto comigo, no albergue é da Austrália, ela é super simpática e me falou tão bem de lá, que quem sabe antes de terminar minha volta ao mundo eu passe para fazer uma visita.
   Acho que agora vou para a Eslovênia...
   Eu tenho bastante dinheiro ainda, e quando ele estiver quase acabando vou arranjar um trabalho, não se preocupem com isso. E por favor não tentem me encontrar, pois assim que vocês lerem essa carta já estarei em outro lugar.
   Sei que vocês sempre tentaram fazer o que era melhor para mim, e eu acho que isso é o melhor para mim. Peço que me entendam, caso não entendam, pelo menos, aceitem minha decisão. Quando der mando notícias novamente. Amo vocês!
                                                                                                                         
Marie
  

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Com Você Eu Vou Até o Fim


Pequena,

     Gosto tanto desse seu jeito de menina e de suas atitudes de mulher. Gosto de ouvir sua doce voz dizendo que me ama. Gosto da forma que você me beija. Gosto do calor dos seus braços. Gosto de quando você fica brava, parece que você realmente se importa comigo. Gosto dos seus ciúmes. Gosto da forma que você dança, como se o mundo pudesse acabar. Gosto dos seus sonhos e planos. Gosto de seus olhos verdes. Gosto de quando você faz bico. Gosto de sua risada fácil. Gosto de suas respostas rápidas. Gosto do seu amor pelos livros. Gosto da forma que você morde o lábio, quando está nervosa. Gosto de amar você.
     Quero chegar em casa e ouvir você cantarolando. Quero sentar para jantar e ouvir você me contando como foi seu dia. Quero brigar com você para escolhermos o que vamos assistir na TV, e acabarmos escolhendo um filme de quinta categoria. Quero acordar no meio da noite e ter você enroscada em mim, dormindo como uma criança. Quero acordar com você me desejando bom dia. Quero poder dizer todo o dia que te amo. Quero te chamar de minha esposa. Quero que você seja a mãe dos meus filhos. Quero estar velinho e te ver ao meu lado lendo algum livro que te arranca lágrimas. Quero fazer você feliz. Quero te mostrar  o quanto eu te amo.

     Se você confiar em mim e se jogar nessa nova vida comigo, vou te mostrar que o nosso para sempre não será temporário.

 Julio