quarta-feira, 31 de julho de 2013

Tic, Tac


Tempo,

     Você é um velho amigo, o primeiro a me ver ao nascer, e sempre esteve ao meu lado. Me ajudou tanto e me fez sofrer tanto. Cuidou de minhas feridas e abriu novas feridas. Me ensinou coisas e me fez esquecer coisas.
     Você que me conhece tão bem, mas que eu não sei nada sobre, a cada dia você se mostra igual e ao mesmo tempo diferente, sempre passando, nunca para, nunca voltar, sempre seguindo em frente. Às vezes passa assustadoramente devagar, como quando estou esperando em uma fila, e às vezes passa assustadoramente rápido, como aquele beijo que tanto esperei. Mas você passa, sempre.
    "TIC, TAC, TIC, TAC, TIC, TAC, o seu  tempo está correndo, TIC, TAC, TIC, TAC, TIC, TAC, o seu tempo está passando, TIC, TAC, TIC, TAC, TIC, TAC." É só isso que você sabe dizer.  E nunca responde minha pergunta, "Como é continuar, mesmo quando as coisas acabam?"
     Algumas vezes eu quis te parar, mas você quis continuar a sua maneira. Algumas vezes eu quis te voltar, mas você quis continuar a sua maneira. Algumas vezes eu quis te fazer andar mais rápido, mas você quis continuar a sua maneira. Agora eu posso sentir que  estou muito perto do fim, e me perguntou se você, acabará ao mesmo tempo que eu?  Ou você seguirá seu caminho, impassível e implacável?

Passado

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Nossa História


Teresa,
 
    Lembra-se de quando nós vimos pela primeira vez? Eu estava de férias na sua cidade natal, sua melhor amiga namorava meu primo e eles nós convidaram para irmos a sorveteria; você usava um vestido verde claro com bolinhas brancas e tinha os cabelos negros soltos, e quando você sorriu pela primeira vez, eu me apaixonei.
    Passamos toda minhas férias juntos, nadando na cachoeira, tomando sorvete, indo ao cinema, fazendo piqueniques. Você me chamou para ser o seu par no baile de início das aulas, e eu aceitei. Fiquei deslumbrado quando passei na sua casa para te pegar, você parecia uma princesa usando aquele vestido longo rosa claro, seu cabelo preso em um elegante penteado. E enquanto dançávamos eu me declarei, e, para minha surpresa você me beijou.
    Quando minhas férias acabaram e tive que voltar, te prometi que voltaria sempre que desse, você não acreditou, mas eu voltei dali duas semanas. Seus pais não gostavam muito de mim, mas mesmo assim continuamos juntos e enfrentamos tudo juntos. Nesses anos separados trocamos tantas cartas... eu as lia e relia sempre. Em três anos terminei a faculdade e voltei para te buscar.
     Nos casamos em uma manhã ensolarada de janeiro. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida, ver você caminhando em minha direção vestida de branco, seus olhos azuis brilhando, sua voz doce dizendo que "sim" para o padre. Você se lembra?
     Não posso dizer que a vida de casados foi fácil, passamos por muitos problemas, mas conseguimos ser felizes e criar nossos três filhos. Os três presentes que ganhamos de Deus, o maior símbolo do nosso amor.
     Lembra-se de como costumávamos sentar todos os dias na varanda e ficar conversando, ou lendo, ou escutando música, ou simplesmente em silêncio de mão dadas vendo o pôr do sol. E entre um pôr do sol e outro nossos cabelos foram ficando brancos, nossa pele enrugada, nossa voz trêmula, mas você ainda tinha o mesmo olhar de menina.
    Hoje você não está mais sentada aqui comigo, a cadeira ao meu lado está fria. Nossa casa ficou tão sem vida, sem você cantarolando, dançando e respirando. Sinto tanto a sua falta. Mas eu sei e espero ir logo ao seu encontro e poderemos seguir felizes. Porque mesmo quando eu morrer, vou morrer amando você.


Com todo amor do mundo, Téo   

sábado, 27 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 4

Dois dias. O tempo que transcorreu desde que minha vida mudou completamente. Em um dos raros momentos de lucidez que tinha lembrei-me de minha irmã mais nova. Ela estava escondida no porão de uma casa abandonada. Assim como nossos pais haviam ordenado. Corri para casa. Precisava saber se ela estava bem.
- Tina! Estava tão preocupada com você! - ela me abraçou. Ouvi sua pulsação. Agradeci por ter encontrado um andarilho no meio da rua e tomado seu sangue. Antes ele do que minha pequena irmã.
- Catrina, querida, tive problemas, mas eu estou bem. Senti sua falta! E adivinha? - levantei a mão. Havia roubado uma pequena mercearia. Já que estava no fundo do poço, não havia porque ser honesta. Meus pais haviam deixado eu e minha irmã sob responsabilidade de meu irmão. Mas ele havia sido tirado de casa para lutar ao lado dos alemães. Obvio que eles não sabiam que meu irmão era judeu. E agora era meu dever cuidar dela - Comida para você.
Ela pegou o saco com um enorme sorriso no rosto. Fiquei feliz por ela estar feliz. Enquanto ela comia um pão, troquei de roupa rapidamente.
- Você não vai comer?
- Já comi. - respondi rapidamente. Não havia conseguido comer nada, só queria o líquido quente, viscoso e escarlate. Sentei-me em um pequeno sofá, logo ela se sentou ao meu lado e encostou sua cabeça em meu ombro.
- Como está lá fora?                                                 
- Ruas escuras, pessoas passando fome, pessoas cobrando absurdos por um pão e ouvi falar que os soldados estão vindo para a cidade.
- E nossos pais? Alguma notícia? - a resposta era sim, mas resolvi ficar calada. Às vezes era melhor ficar na ignorância do que descobrir a verdade.
- Nenhuma querida... - observei que seus olhos brilharam, estava prestes a chorar - Mas, ouvi falar que alguns soldados vão ter permissão para visitar a família. - ela me olhou, um sorriso enorme surgiu em seu rosto. Preferi não lhe contar que talvez nosso irmão não viesse junto.
Acabamos pegando no sono. Acordei com um barulho ritmado e irritante. Olhei para Catrina, "via" o sangue pulsando dentro de suas veias. A sede e a fome eram enormes. Levantei-me rapidamente.
- O que houve? - ela parecia assustada.
- Tenho que ir. Prometo que voltarei!
Meu coração se apertou quando essa lembrança invadiu minha mente. A afastei rapidamente de minha cabeça, não podia ser fraca. Aquilo havia ocorrido há muito tempo. Tempo demais. Não deveria me afetar.
- Você tem duas escolhas... Posso ajudá-lo, mas a decisão será sua.
- E quais são essas escolhas? -
- Primeira, dizer que você está morto. Segunda opção, envolver ela nessa loucura.
- Não se importam se humanos souberem da existência de vocês?
- Você quis dizer da nossa existência - ele deu de ombros - Caso a pessoa saiba guardar segredos e conviver com isso... Quantos anos ela tem?
- 28.
- 28... ela deve estar casada..
- Sim, e está grávida de gêmeos.
- Gêmeos! Pobre mulher... Você a envolveria nessa confusão? Sangue, predadores, etc. - ele abriu a boca para responder - Não precisa responder agora. Pode pensar, depois conversaremos sobre isso. – dirigi um pouco e logo estacionei na garagem de um hospital. Pelo elevador fui até a recepção. John havia ficado no carro, disse que ele devia ficar pensando, mas temia pela vida dos pacientes na sala de espera do consultório.
- Olá, boa tarde. Preciso falar com a Diana. - delicadamente empurrei uma nota de cem para a garota - É urgente. - ela pegou a nota e discou para um número.
- Siga no corredor, a última porta é a dela. - sorri delicadamente.
- Valentina! Voltou rápido, deve fazer uma semana que veio aqui. - ela apertou minha mão. Vampiros evitavam se aproximar demais de humanos. Diana era uma médica que nós "alimentava". Ela vendia sangue.
- Tive uma visita inesperada. Preciso de um pouco mais, não muito, porque vou tirar férias em dois dias. - ela fez um gesto afirmativo com a cabeça e ficou em pé. Seguimos por um corredor e entramos em uma sala refrigerada. Ela pegou quinze sacos de sangue e colocou em uma bolsa térmica. Fiz um cheque com uma alta quantia para que ela repusesse o que havia sido retirado. - Obrigada. Nós vemos por aí.
- De nada. É obvio que nós vemos. - ela sorriu desdenhosa. Pensei em respondê-la, mas preferi ficar de boca fechada, não valia à pena. Peguei a bolsa térmica e saí. John ainda estava no carro, ele estava procurando uma estação de rádio.
- Esta estação que você ouve é meio ruim.
- Eu escuto CDs. - me debrucei levemente sobre ele para abrir o porta-luvas, peguei o porta CDs e lhe entreguei. Ele observou os discos enquanto voltava para a rua movimentava. Escolheu um de rock clássico.
- Para onde vamos agora? - observei o relógio. 17:00.
- Meu apartamento. Um amigo vai nos visitar. - um silêncio se formou, passamos por um grupo de jovens, os olhos de John brilharam de desejo. Aumentei a velocidade do carro. Ele desviou o olhar e me fitou.
-  Antes de tomar minha decisão em relação a minha irmã, quero saber sobre os tais perigos...
Estava na rua da casa que minha irmã estava escondida. Fazia dois dias que havia ido visita-lá. Ouvi uma porta se abrir. Escondi-me em um beco. Três homens saiam da casa. Meu coração disparou. Rezei para que eles não tivessem feito nenhum mal a minha irmã. Eles passaram por mim. Todos usavam roupas pretas. Um deles olhou para o beco. Parecia ser bem jovem. Tinha olhos violetas. Ameaçadores. Aqueles olhos se gravaram em minha mente. Quando eles sumiram na esquina corri para casa. A porta estava arrombada.
- Catrina?! Cadê você?! - desci as escadas até o porão, onde era para ela estar. A encontrei encolhida em um canto escuro. O cheiro doce invadiu meu olfato. Controlei minha sede. Havia enormes cortes por todo corpo dela. Faltavam duas unhas.
- Tina... - sua voz soou tão baixa e dolorida, que me deu vontade de chorar.
- Shii.. - coloquei meu dedo em seus lábios. Havia sangue neles. A peguei no colo. Delicadamente a deitei no sofá.
- Eles estavam te procurando... por favor se proteja...
- Querida, não diga nada... guarde suas forças... eu vou chamar um médico... - ela não me deixou terminar.
- Eles disseram que você era uma aberração... que havia se tornado uma vampira... que iam te matar! - ela observou meus olhos verdes sendo tomados pelo prata, depois meus lábios onde as presas tocavam meu lábio inferior - Eu não me importo. Você ainda é minha irmã, minha protetora - ela respirou profundamente e soltou um gemido por entre os dentes - Só me prometa que vai ficar viva.
- Desculpe Cat... eu devia estar aqui... devia ter te protegido! - um pequena lágrima rolou em meu rosto.
- Tina... - ela engasgou, um pouco de sangue saiu por sua boca - Você não teve culpa... só me prometa...
- Eu te prometo querida. - ela sorriu e depois começou a tossir desesperadamente, vomitando sangue. Apertei sua mão. Rezei para um Deus que a cada dia duvida mais que existia. De repente ela parou. Sua respiração e pulsação diminuíram até se tornarem inexistentes - Catrina...
Aquelas lembranças eram dolorosas demais. E fiquei agradecida por ter voltado à realidade.
- Lembra-se de que eu disse que existem 3 lados ruins? - ele balançou a cabeça - O primeiro lado e ter que viver de sangue, apesar de que com a idade você consiga comer, mas o sangue sempre vai ser o seu alimento principal. O segundo é que você provavelmente vai ver todos seus familiares morrer. E por último a pior parte, os caçadores.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Carta Não Enviada



Querido,

    Faz muito tempo desde a última vez em que nos vimos. Não que eu me sinta mal por causa disso. Deve ter ouvido conversas fiadas sobre mim e sobre os bares de quinta que andei frequentando. Deve ter ouvido o quanto bebi, o quanto falei, o quanto dancei e o quanto chorei. Você me conhece bem. Sabe que bebo para me distrair, para esquecer um pouco da vida corrida e dos acontecimentos desagradáveis. Sabe que o que falo é o que fica preso no meu "filtro mental", que são as coisas que penso e que não devo dizer. Sabe que quando danço é para disfarçar meus paços trôpegos de tanto álcool já existente na minha corrente sanguínea. E sabe que sempre choro depois de beber uma quantidade considerável, sempre por motivos que nem eu mesma sei dizer. Mas depois de achar que já estava no fundo do poço, já dizia o velho Bukowski, descobri que podia ir ainda mais fundo. Digo isso porque descobri o porque acabou. Porque você não suportava minhas manias e mudanças de humor constante. Não entendia minha alegria por cuidar de animais de rua, já que dizia que eu não conseguia cuidar nem de mim mesma. Não aguentava minha necessidade de liberdade. Não queria saber das minhas crises de choros e nem dizia, nem que fosse só para me acalmar, que ficaria ali comigo e que eu não teria com o que me preocupar. Não entendia também, minhas súbitas vontades de ficar sozinha ou de quando não conseguia ficar um minuto longe de você. Você tinha medo da minha absurda coragem de fazer as coisas sem planejar e sem ligar se dariam certo ou não. Descobri que você tinha medo de mim. E descobri que você não era tudo aquilo que eu queria. Rotina e organização era o título da sua agenda 2011. Rotina não é para mim e minha organização é tão bagunçada como meu armário.     Um ano se passou e ainda não entendi o porque eu fui tão cega por ficar com você. Não estou mais no fundo do poço, agora seguro firme o balde para pegar água. Hoje sinto que não fez diferença ficar com você, só aumentou minha experiência de paixões imaginadas. Se me perguntam sobre você, a sensação é de como se você fosse uma pessoa que conheci na rua e nunca mais vi. 

Sem ressentimentos, 
Alice.


Vi no blog Nepente (angelaguidi.blogspot.com), de um passadinha lá ;D

terça-feira, 23 de julho de 2013

Razões do Fim


Carla,

    Acho que você nunca entendeu realmente porque nos afastamos, porque nossa amizade acabou. A gente vivia juntas, nos falávamos todos os dias, tínhamos tantas coisas em comum e aos poucos nos afastamos e deixamos de nos falar.
     Por isso resolvi te escrever essa carta, para te explicar o porquê.  Eu sempre te contava tudo, o que havia acontecido no meu dia, meus medos e anseios. E acreditava que você também fazia o mesmo, mas descobri que você escondia muitas coisas de mim. Fiquei brava com essa sua atitude, porém resolvi relevar, afinal certas coisas não são fáceis de ser ditas ou contadas.
     Sou o tipo de pessoa que quando se importa com alguém, liga atrás, puxa conversa no facebook, chama para sair, enfim eu corro atrás, mas tenho uma necessidade que também corram atrás de mim de vez em quando, e eu senti essa necessidade em algum ponto da nossa amizade, deixei de te ligar ou te procurar, esperando que você viesse atrás de mim, (sim, eu sei que pode parecer infantil, mas eu tenho sentimentos infantis, quem não tem?), mas você não veio, estava envolvida com o seu novo namorado (sim, eu tive ciúmes dele).
     E por último fiquei sabendo que você andou falando da minha vida e da vida de pessoas próximas a mim, para quem não devia e acabou por dificultar minha vida. E eu pensei, "que tipo de amiga faz isso com a outra?".
      Sei que talvez esses três motivos podem não parecer suficientes para deixar a nossa amizade acabar, mas você me conhece sou a rainha do "dramalhão mexicano" e quando ponho uma ideia na cabeça é difícil tirá-la de mim.
     Quero que você saiba que apesar de tudo, eu ainda me preocupo com você e me importo. E também, às vezes, sinto saudades.

Ana

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Precisa-se De Uma Família




Luciano Hulk,

    Me contaram que o senhor arruma a casa das pessoas, não sei se é verdade pois os garotos que moram comigo gostam de me pregar peças. Mas não custa nada tentar.
   
   Meu nome é Gabriel, tenho seis anos e moro em um orfanato com mais um monte de meninos e meninas de todas as idades. Aqui também tem várias tias, que cuidam da gente, tem a tia Ana que faz comida, tem a tia Maria que limpa tudo, a tia Lívia que ajuda a gente com os deveres de casa, e que também está escrevendo a carta para mim, já que não sei escrever ainda, a tia Letícia que conversa com as pessoas que veem adotar a gente, e outras tias também.
   Não sei  quem é meu pai e nem minha mãe, a tia Lívia disse que vim para cá ainda bebê, e que nem certidão de nascimento eu tinha. Mas sempre quis ter um pai e uma mãe, e um cachorro, e outro cachorro talvez, e um irmãozinho para brincar, e brinquedos só meus, sabe queria ter o que se chama de família.
   Quando me contaram que o senhor arrumava a casa dos outros, pensei que quem sabe, algum dia o senhor encontre alguma família que quisesse ter um filho, aí o senhor podia falar para eles me adotarem.  As tias dizem que sou um bom menino, não brigo muito, não costumo xingar muito também, sou estudioso só tiro notas altas. Tenho certeza que vão gostar de mim...
   


                                                                                                                                    Gabriel

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 3

- Pode... O duro é você conseguir.
- Você já tentou? - ele parecia curioso.
Eu havia me tornado um ser mítico. Um vampiro. Um monstro, que vivia de sangue. Meus pais haviam se sacrificado por mim. E eu me tornara um monstro. Peguei uma faca. A mais afiada da cozinha. Enfiei-a em meu peito. Direto no coração. Senti uma ardência. Havia um pouco de sangue. Mas não veio morte alguma. Retirei a faca. Havia a marca de onde ela havia sido enfiada. A cicatrização foi instantânea. Desesperada tentei o veneno. Mas não fez diferença alguma. Peguei a arma de meu pai na gaveta. Atirei na cabeça. Só senti uma leve dor de cabeça que passou rapidamente. Corri para fora da cidade, havia um penhasco aos redores dela. Joguei-me. Senti todos meus ossos se quebrarem, mas a morte não veio. A dor da cicatrização era intensa. Algumas horas depois já estava inteira. Não estava morta. Só tinha muita fome.
 - Tentei. Várias vezes... Não consegui obviamente.
- Mas deve existir um modo...
- Sempre existe... mas não vou lhe contar. Não gosto de ser responsável pela morte de novatos. - o sol começava a nascer no horizonte. Ficamos em silêncio. Quase podia ouvir a cabeça dele. Os pensamentos deveriam ser uma confusão e rápidos demais. A fase de revolta/depressão, havia sido rápida e agora ele ia entrar na aceitação.
- Quem era aquele cara? Porque ele ajuda os vampiros? Nós somos monstros!
- O Victorio? Ele é um dos poucos humanos que sabem e ajudam os vampiros. A filha dele é uma vampira, Franciele, ele a viu sendo transformada e a ajudou a passar por tudo. Um homem bom.
- Pobre homem... Sabe você parece conhecer bastante sobre os vampiros...
- É... eu conheço. - disse de modo vago enquanto entrava na garagem. Subimos até meu apartamento - Tem um quarto para você com banheiro e tudo mais - destranquei uma porta que ficava quase invisível na sala - A cama está arrumada. Sinta-se a vontade. Tem sangue na geladeira, mas não beba tudo. Eu vou tirar um cochilo, mais tarde tenho coisas importantes para fazer. 
- Vampiros dormem?
- Somos como humanos, só que mais bonitos, rápidos, inteligentes e nos alimentamos de sangue... Você logo verá que essa vida tem muitos lados positivos, só existem 3 lados ruins... Outro dia te explico, porque agora estou cansada - soltei um bocejo - Não se esqueça do vaso quebrado no chão da sala! - gritei enquanto me encaminhava para o meu quarto.
Tranquei a porta. Isso pode retardar um ataque inimigo e me dar tempo para fazer uma estratégia de fuga, apesar de que a estratégia estava perfeitamente decorada em minha cabeça.
Parei em frente à penteadeira e observei meu reflexo no espelho. Minha pele clara contrastava com meus cabelos negros de tamanho mediano, não eram compridos e nem curtos, lisos, repicados de forma desordenada e tinha a pequena franja sempre jogada para o lado. Meus olhos verdes continham um brilho prateado, me lembrando do que tinha dentro de mim. Tinha lábios carnudos, nariz bem feito. Meu rosto tinha um aspecto delicado, apesar de nunca ser delicada, era considerada forte entre todos, às vezes era chamada de durona e até de mal humorada. Mas essa era minha proteção, uma menina criada por uma família de judeus no período do nazismo deveria ser assim.
Abri a porta de meu armário, abri um espaço entre as roupas que estavam dependuradas, tateei a parede a procura do pequeno puxador que havia escondido ali. Sem resistência alguma a porta se abriu. Uma pequena luz no teto do armário foi acessa, era ali que escondia minhas armas, revólveres, pistolas, adagas e até um pequeno arco e flecha. Peguei uma adaga. Em seu cabo tinha esculpido um pequeno anjo do lado direito e do lado esquerdo havia um pequeno pentagrama. Essa fora a primeira arma que havia ganhado. Era especial para mim. Fechei a porta. Coloquei a adaga em baixo de meu travesseiro. 
Uma claridade idiota batia em meu rosto insistindo para que eu acordasse. Amaldiçoei-me mentalmente por não ter fechado a cortina quando fora dormir e também amaldiçoei o dia por estar tão ensolarado. Meu humor não combinava com sol, preferiria um dia nublado, assim teria uma desculpa para meu mal humor.
Virei o rosto para o lado e olhei o relógio. 13:05. Espreguicei-me feito um gato, joguei as cobertas no chão. Caminhei sonolenta até o banheiro e joguei uma água no rosto, para ajudar a despertar. Ouvi algo metálico cair, vinha da cozinha. Peguei minha adaga, destranquei e abri a porta. Dei de cara com John revirando um dos meus armários. Havia me esquecido completamente que havia um novato em meu apartamento. Ele se virou e me encarou assustado. Observei a adaga em minha mão. A abaixei e coloquei-a na mesinha ao meu lado.
- Desculpe! Isso é só... prevenção.
- Ok! Bom dia então.
- Bom dia por quê? Eu acordei, não é um bom dia. - ele revirou os olhos e depois voltou a me encarar, desta vez havia desejo em seus olhos, abaixei o olhar. Estava usando uma mini camisola preta que deixava minhas pernas a mostra, era transparente na barriga e tinha um belo decote - Não está acostumado com mulheres? Não me vá dizer que é um puritano! Não precisa responder, vou me trocar. - dei alguns passos para trás, não achei seguro virar de costas, se ele havia agido assim de me ver de frente imagina de costas, onde toda a camisola era transparente e metade de meus quadris ficava amostra. 
Vampiros eram seres considerados sexuais, algo envolvente, acredito que tenha haver com o sangue e a imortalidade. Quando mais velho um vampiro ficava mais bonito se tornava. Demorei um pouco a me acostumar com isso. Beleza, sexo, luxuria era algo comum entre os vampiros. Antes de me tornar uma deles, era uma garota recatada, cheia de modos e pudores, mas a vida me ensinou a agir de acordo com a ocasião e com quem convivia. Agora para mim toda essa luxuria era tão normal quando ter um estoque de sangue na geladeira.
Procurei por roupas casuais e impactantes. Escolhi uma calça jeans preta, que se ajustava perfeitamente ao meu corpo, regata preta com um leve decote e bem colada ao corpo e uma sapatilha lilás. Voltei a sair do quarto. John evitou me olhar, continuou a tomar seu sangue, desta vez em um copo, de forma mais civilizada. Isso é bem irônico.
- Como passou a noite... - olhei para a janela e me corrigi - manhã?    
- Acredito que bem... apesar de tudo ser tão estranha. Ah, assim que você foi dormir limpei o vaso quebrado da sala, então pare de falar dele. Depois acabei dormindo. Acordei agora e vim procurar comida.
- Ótimo. - peguei uma taça, misturei sangue com vodca.
- Você sempre toma sangue com bebida alcoólica? Até no café da manhã? - sorri de forma desdenhosa.
- 3 coisas. 1ª fica muito melhor. 2ª vampiros não ficam bêbedos. 3ª agora está mais para almoço do que para café da manhã. - ele revirou os olhos e deu de ombros - Experimente. - estendi o copo para que ele pegasse.
- Não obrigado.
- Não estou oferecendo, estou mandando. - ele virou de costas e despejou um pouco mais de sangue em seu copo. Antes que ele  me impedisse coloquei uma dose de vodca junto com o sangue - Experimente, caso não goste te deixo em paz. - ele bebeu.
- É bom... mas prefiro puro. - Homens eram tão orgulhosos. Terminei meu drinque.
Observei o meu estoque na geladeira, estava baixo. Há muito tempo vivia sozinha, tinha me esquecido como um novato bebia muito sangue. Esse devia ter sido o motivo para o estoque ter diminuído vertiginosamente.
- Andou fazendo lanchinhos durante a noite. - ele me olhou, mas não disse nada - Vamos sair... tem alguma roupa para vestir? - observei a camiseta e calça amassadas que ele estava usando.
- Que pessoa que carrega outras roupas, pensando que precisaria porque poderia me tornar um vampiro?
- Bom ponto de vista. - resmunguei enquanto entrava em meu quarto, abri o armário havia algumas peças de roupas masculinas nele. Escolhi uma camiseta azul escuro e calça jeans, voltei para a cozinha - Veste isso.
Ele olhou as roupas e depois sumiu dentro do quarto dele. Em dois minutos ele já estava pronto.
- Pelo visto a roupa serviu. - peguei a bolsa e as chaves do carro – Vamos. – ele ficou de pé e me seguiu, dirigi até uma ruela escura onde raramente haviam pessoas transitando. John me olhou, havia um misto de medo em confusão em seus olhos.
- Que lugar é esse? O que viemos fazer aqui? – abri um pequeno sorriso. Abri a porta do carro e sai. Ele continuou no carro me olhando de forma desconfiada. Todas as casas eram iguais, tijolos a vista, portas de ferro enferrujadas e as janelas estavam, em sua maioria, quebradas ou coberta por jornais. Bati em uma das portas que foi entre aberta.
- Quem?!
- Sou eu, Valentina. – a porta foi aberta e uma mulher alta de cabelos vermelhos surgiu – Olá Gabbe.
- Oi, Val. Veio comprar roupas para você?
- Não é para meu novato. – apontei para o carro. Ela sorriu.
- Um verdadeiro pedaço de mal caminho. – chamei John com a mão.  
- John essa é Gabbe, Gabbe John. Ela é uma vampira e vai te ajudar a comprar algumas roupas. – Gabbe o segurou pelo braço e o arrastou para dentro da loja.
 A loja era toda branca e tinha uma parede pintada de preto. Havia várias araras cheias de roupas, de todos os tamanhos e cores. Confortáveis sofás pretos, com uma mesinha de madeira escura ao lado, que sempre tinha uma jarra cheia de sangue, taças e revistas.
John escolheu algumas camisetas, calça jeans, bermudas e um tênis. No caminho de volta pra casa ele permaneceu calado por todo o trajeto.
- O que houve?

- É minha irmã... Ela nunca vai saber sobre mim?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lembranças



Luci,

   Lembra de quando fizemos aquele piquenique na praça perto da sua casa? Lembra da vez que pintamos todo seu apartamento de branco, para você usá-los como tela? Lembra de quando pulamos de paraquedas juntos? Lembra de quando fomos ao show do Lenine? Lembra do ano novo que passamos naquele rancho afastado de tudo, só nós dois? Lembra daquela festa em que eu fiquei bêbado demais? Lembra das vezes que você cuidou de mim quando eu estava de recassa? Lembra de quando fomos à praia e você ficou tão queimada que eu não podia nem te tocar? Lembra de quando eu tentei te ensinar a andar de skate e você caiu e ralou o joelho? Lembra daquela nossa briga em baixo da chuva, que para te fazer parar de gritar eu te beijei? Lembra dos beijos que trocamos? Lembra do nosso aniversário de 2 anos de namoro, no qual eu enchi seu apartamento de pétalas de flores e comprei comida Italiana para nós? Lembra dos nossos planos? Lembra da música que compus para você? Lembra das nossas viagens? Lembra dos nosso momentos juntos? Lembra de nós? Lembra que você costumava me amar? Lembra que chegamos a acreditar que seria para sempre?

    Eu me lembro todos os dias.
Victor 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

On The Road



Queridos Pais,

   Vocês sabem que eu sempre fiz de tudo para ser perfeita, tentei sempre ao máximo não cometer erros e não magoar vocês. Sempre deixei que vocês regrassem minha vida, cada passo que eu dava vocês sabiam as razões e onde eu queria chegar.
   Deixei de viver certos momentos da minha vida porque vocês acharam melhor eu não viver, me proibiram, me deixaram ver a vida passar sem fazer parte dela.  Nunca lhes disse isso, mas estava sufocando.
   E esse "sufocamento" chegou ao seu ápice alguns meses atrás. Então resolvi viver! Não sei se vocês já leram aquele livro: On The Road, em que dois amigos resolvem viajar pelos Estados Unidos, buscando liberdade, e é isso que quero fazer; viajar, conhecer pessoas novas, culturas novas, emoções novas, sensações novas, encontrar o meu verdadeiro eu, encontrar a minha liberdade.
   Então, peguei minhas economias, aquelas que juntava sem saber o porque, bom eu descobri, comprei uma passagem para o Peru, sempre quis conhecer Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas.
   Fazem três semanas que saí de casa sem me despedir, sabia que se falasse com vocês, iam se mostrar contra e tentar me fazer desistir. Sei que ficaram muito preocupados quando encontraram meu quarto vazio e só uma pequena nota em cima de minha cama:
      "Fui em busca de minha liberdade! Assim que der mando notícias. Amo vocês."
    Aqui no Peru conheci uma cultura tão diferente, pessoas tão diferentes, até aprendi um pouco da língua local, a quechua. Estranhei um pouco a comida aqui, parece que quase tudo  tem frutos do mar, algo que nunca fui fã. Fiz algumas amizades, a menina que divide o quarto comigo, no albergue é da Austrália, ela é super simpática e me falou tão bem de lá, que quem sabe antes de terminar minha volta ao mundo eu passe para fazer uma visita.
   Acho que agora vou para a Eslovênia...
   Eu tenho bastante dinheiro ainda, e quando ele estiver quase acabando vou arranjar um trabalho, não se preocupem com isso. E por favor não tentem me encontrar, pois assim que vocês lerem essa carta já estarei em outro lugar.
   Sei que vocês sempre tentaram fazer o que era melhor para mim, e eu acho que isso é o melhor para mim. Peço que me entendam, caso não entendam, pelo menos, aceitem minha decisão. Quando der mando notícias novamente. Amo vocês!
                                                                                                                         
Marie
  

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Com Você Eu Vou Até o Fim


Pequena,

     Gosto tanto desse seu jeito de menina e de suas atitudes de mulher. Gosto de ouvir sua doce voz dizendo que me ama. Gosto da forma que você me beija. Gosto do calor dos seus braços. Gosto de quando você fica brava, parece que você realmente se importa comigo. Gosto dos seus ciúmes. Gosto da forma que você dança, como se o mundo pudesse acabar. Gosto dos seus sonhos e planos. Gosto de seus olhos verdes. Gosto de quando você faz bico. Gosto de sua risada fácil. Gosto de suas respostas rápidas. Gosto do seu amor pelos livros. Gosto da forma que você morde o lábio, quando está nervosa. Gosto de amar você.
     Quero chegar em casa e ouvir você cantarolando. Quero sentar para jantar e ouvir você me contando como foi seu dia. Quero brigar com você para escolhermos o que vamos assistir na TV, e acabarmos escolhendo um filme de quinta categoria. Quero acordar no meio da noite e ter você enroscada em mim, dormindo como uma criança. Quero acordar com você me desejando bom dia. Quero poder dizer todo o dia que te amo. Quero te chamar de minha esposa. Quero que você seja a mãe dos meus filhos. Quero estar velinho e te ver ao meu lado lendo algum livro que te arranca lágrimas. Quero fazer você feliz. Quero te mostrar  o quanto eu te amo.

     Se você confiar em mim e se jogar nessa nova vida comigo, vou te mostrar que o nosso para sempre não será temporário.

 Julio 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Soul Sister



Amanda,

    Eu sei que nós andamos meio afastadas, éramos tão unidas e com o tempo fomos simplesmente deixando a nossa amizade cair no esquecimento. Não houve uma razão, um motivo especifico para esse afastamento. Foi simplesmente um desses malfeitos do tempo, em que uma relação simplesmente se desgasta, ou que cai na zona de conforto.
   Não percebemos que nossa amizade estava se extinguindo, ou pelo menos eu não percebi, e quando eu dei por mim, estávamos sentadas da forma mais afastadas possível. E isso me doeu  tanto, e parei pra me perguntar em que momento que eu deixei de ser sua soul sister, e não achei nenhuma resposta.
    Então simplesmente me sentei ao seu lado e puxei assunto, conversamos sobre assuntos banais, e vimos nossa amizade acordar. E foi como se esse tempo afastadas, não tivesse ocorrido.
   E nesse momento eu descobri, que amizade construída como a nossa, desde os tempos de infância,  pode ficar meio fria, mas nunca acabar. Ela vai durar para sempre, e vamos contar sobre essa tal amizade eterna, sobre essa tal melhor amiga para os nossos filhos.


                                                                                                               Cath

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 2

Em seus olhos pude ver várias emoções passarem, cada uma tinha um brilho diferente. Era interessante de se ver. Acontecia com todos. Primeiro a negação. Depois revolta/depressão. Por último a aceitação. Pelo menos eles tinham alguém para lhes contar o que estava havendo e os ajudar a sobreviver nesse mundo novo.
Levantei-me, meu corpo estava diferente, mais leve e ao mesmo tempo enrijecido. Todos meus sentidos estavam mais aguçados. Estava à noite, mas enxergava como se fosse dia. Não consegui entender o que estava havendo. Caminhei pelas ruas vazias, tentando voltar para casa. Podia ouvir as conversas sussurradas dentro das casas. As respirações. As batidas ritmadas de corações. Uma sensação estranha percorreu meu corpo. Não era fome. E nem sede. Uma mistura dos dois, talvez. Um homem trôpego veio em minha direção. Estava alcoolizado. Disse algo que não consegui entender. Não ouvi sua voz. Só as batidas de seu coração. Meus dentes começaram a doer. Passei a língua neles, os caninos estavam pontiagudos e sensíveis. Minha visão se focou no pescoço do homem. Eu vi o sangue correr em suas veias. De repente estava de frente para ele. Ele sorriu debilmente. Minha mão estava em seu rosto entortando sua cabeça para a direita. Ele tentou se livrar, mas minhas mãos pareciam garras de ferro. Meus dentes perfuraram sua pele. Seu grito ecoou por toda a rua. O líquido viscoso e doce preencheu meu paladar. Goles grandes e rápidos. O homem parou de lutar e gritar. Melhor assim. Aos poucos a  sanidade foi voltando até mim. Achava que ainda havia sangue nele. Em seu pescoço havia dois furos grandes, mas não sangravam. O deixei caído no chão. Torci para que não tivesse morto e corri para casa de meus pais. Quando cheguei a casa e vi meu reflexo no espelho não me reconheci. Meus olhos verdes, agora tinham um intricado prateado que rodeava pupila. Havia ganhado peitos, músculos definidos e quadril. Meu rosto estava todo sujo de sangue. Abri a boca e ali estavam. Os dois caninos. Sujos de sangue, mas ainda brilhavam de forma ameaçadora. Um grito de horror escapou por meus lábios.
- Aram, e Papai Noel também existe? – ele deu uma risada seca, continuei a fitá-lo meu rosto impassível - Que piada de mau gosto é essa?! Ela não tem nenhuma graça. Dá para falar sério?!
- Eu lá tenho cara de humorista? Estou falando totalmente sério.
- Vampiros não existem!
- Se não existem, o que te atacou lá fora? O que te fez passar por toda essa agonia? Um tipo novo de inseto, uma nova doença?
- Não sei... mas vampiros?! É pura fantasia... histórias para assustar crianças! - me deu vontade de rir de sua descrença, de suas feições irritadas, mas mantive minha expressão séria. Tinha que ser profissional.
- Ah! Toda história tem um pouco de realidade.
- Me dê provas que vampiros existem. - ele passou as mãos pelo cabelo negro.
- Você é uma prova. - ele revirou os olhos quando apontei para ele. Suspirei e me concentrei. Meus caninos aumentaram e afinaram. Nunca me acostumava com a dorzinha aguda que sentia de quando eles cresciam. Os senti tocar meu lábio inferior. Meus olhos verdes foram tomados pelo prata. Normalmente a pupila era envolta pela cor e tinha alguns intricados, mas quando me "transformava" o verde sumia. Sorri para ele. - Isso é o bastante para você? - ele arregalou os olhos assustado.
- Isso... é impossível... deve ser algum truque. - aquilo estava me irritando. Precisava de um drinque. Não gostava que duvidassem de mim.  
- Vamos ali... até a cozinha. - ele me seguiu desconfiado e observou enquanto pegava a taça e o vinho, antes de pegar o sangue na geladeira me virei para ele - Você está com uma sensação estranha, uma mistura de fome e sede?! - ele fez um gesto afirmativo com a cabeça. Abri a geladeira. Ele arregalou os olhos. Peguei um saco de sangue, despejei só um pouco na minha taça. Observei como John agia, seus olhos agora eram prateados. Joguei o saco para ele.
Ele bebeu todo o sangue. Rapidamente não havia mais nada. Eu nem tive tempo de tomar o meu drinque e ele já estava pedindo mais. Fiz um gesto negativo com a cabeça. Seu rosto estava todo sujo de sangue. Seus olhos se clarearam e ele me olhou acusadoramente.
- O que eu estou fazendo?! O que você fez comigo?! Isso não pode ser sangue! É tão doce...  não parece nada com sangue, sangue tem gosto de ferro!
- Isso é só uma das mudanças. - terminei meu drinque e lhe joguei o rolo de papel toalha - Limpe esse sangue do rosto. - ele limpou rapidamente fazendo cara de nojo.
- Aonde você vai? - segui até a porta do apartamento que ainda estava aberta, peguei minha bolsa e as chaves do meu carro.
- Você quis dizer aonde nós vamos. Vou te levar a um lugar... e quando voltarmos você irá limpar isto. - apontei para o vaso estilhaçado no chão. Entramos no elevador, um silêncio estranho se seguiu.
- Isso não é possível... deve ser só um truque. - ele ficava murmurando em voz baixa. A fase de negação estava no seu estagio final. Destravei o carro. Ouvi um assobio vindo de John - Isso é um Audi? Um R8?!- homens eram estranhos, apesar de estar passando por um momento absurdo em sua vida, ele ainda tinha capacidade de se impressionar por um carro.
- Acho que sim. Só o comprei porque gostei da cor preta, por ser veloz e bonito.
- Vocês mulheres são estranhas! – soltei uma risada enquanto ele entrava no carro e observava o interior. Dirigi rapidamente pelas ruas desertas - Precisa correr? Você pode matar alguém. Pode nos matar. - comecei a rir.
- Nos não podemos morrer, pelo menos não de acidente de carro. E quanto às pessoas, é mais perigoso se eu dirigir vagarosamente, você pode ouvir batidas de corações e matar alguém.
- Eu não mataria ninguém!
- Claro... Isso quando seu lado humano falava mais alto, quando você só o tinha, mas agora tem um animal dentro de você que é louco por sangue. - ele tentou recrutar, mas resolveu ficar calado. Ainda bem. O dia já havia acabado a algum tempo. Olhei no relógio. 01:30. Entrei no estacionamento do necrotério.
- Que lugar é esse? - não o respondi, simplesmente sai do carro. Um senhor de roupas negras e cabelos brancos caminhou em minha direção.
- Olá Victorio.
- Oi Valentina. Faz tanto tempo que não a vejo. O que a trás aqui?
- Meio que voltei a trabalhar. Tem algo para meu amigo? - apontei para John, que ainda estava dentro do carro, me olhando de forma desconfiada.
- Sempre tenho, sempre Val. - chamei John com a mão, Victorio entrou no prédio, o segui. Conhecia aquele prédio muito bem e o homem ao meu lado era um fiel amigo - Teve notícias de Franciele?
- Sim. Ela está na Rússia, junto com seu namorado. - Franciele era sua filha, uma vampira.
- Fico feliz de saber que ela está bem! - John seguia bem atrás de mim, parecia curioso, mas ao mesmo tempo sentia medo. A primeira vez que havia ido ali também tive medo. Era um corredor escuro, de pedras e um pouco frio. Isso para um vampiro que enxergava bem no escuro e muito raramente sofria em relação ao tempo. Imagina para um humano. Entramos em um corredor mais iluminado e um pouco mais quente.
Victorio abriu uma das portas de ferro, as paredes eram de aço, com gavetas até o teto. O cheiro doce estava presente, senti a vontade dentro de mim crescer. Controlei-a, estava ali por causa de John. Estava ali a trabalho. O velho abriu uma gaveta que tinha como etiqueta, DESCONHECIDO.
- Todo seu. - dizendo isto ele saiu e me deixou sozinha com John.
- O que está esperando? O cara já está morto, pode tomar o sangue. - era necessário que um novato tomasse sangue diretamente de um humano em suas primeiras 24 horas de vida. Era um modo de evitar que depois ele descontrola-se e perdesse toda sua consciência, seu lado humano. Esse controle provinha de substâncias que só o sangue armazenado dentro de corpos humanos tinha.  
- Não mesmo. - podia ver que ele estava salivando, mas conseguia se controlar. Estava com estomago forrado. Peguei um pequeno bisturi em minha bolsa e encostei no pescoço do morto. Uma pequena gotícula caiu. Em um piscar de olhos John estava ao meu lado, fiz um gesto afirmativo com a cabeça e ele cravou os dentes onde eu havia cortado.
Quando ele terminou, entreguei um lenço para que limpasse a boca, peguei um vidrinho dentro da bolsa e pinguei uma gota do liquido transparente onde John havia se alimentado. Os ferimentos se cicatrizaram.
- Terminaram Val? - Victorio estava com a cabeça enfiada na porta.
- Sim. - John parecia anestesiado pelo que tinha feito e ficou parado perto da gaveta. Peguei-o pelo braço e o arrastei até o estacionamento - Obrigada. - peguei algumas notas dentro de minha bolsa. Ele as pegou, relutante - Não se sinta mal por ser pago, assim como o senhor nos ajuda, nos o ajudamos.
- A senhorita é uma boa alma. Sempre que precisar pode vir aqui... E se não for pedir muito, quando falar com Franciele peça para ela me ligar.
- Pode deixar. - entrei no carro. John ficou calado por metade do trajeto.
- Posso me matar? - finalmente, agora a fase da depressão/revolta.

sábado, 6 de julho de 2013

Pré-Futuro




Futura eu,

   Como nós estamos? Será que a gente continua com medo de enfrentar a vida? Será que a gente tomou as decisões certas? Será que nós já conhecemos o mundo? Pelo menos conhecemos Londres? Será que já temos filhos? Será que casamos? Será que temos um cachorro? A gente ainda se emociona com as mesmas coisas? A gente ainda gosta das mesmas coisas? A gente ainda é amante da leitura? Aprendemos falar Francês? Aprendemos falar Italiano?
  Será que aprendemos a ser mais pacientes? A ser mais tolerantes? A perdoar? Começamos finalmente aquela academia? Estamos trabalhando em algo que gostamos? Já publicamos algum livro? Temos muitos pares de sapato? Ainda temos mais livros do que sapatos? Ainda temos os mesmos gostos? Ainda somos chocólatras? Adquirimos mais algum vício? Aprendemos a cozinhar? Aprendemos a dançar? Aprendemos a tocar violão? Ainda gostamos das mesmas músicas? Ainda confiamos nas pessoas? Ainda amamos a sensação do vento no rosto? Ainda somos bagunceiras? Ainda temos as mesmas amizades? Fizemos novos amigos?
    E os mais importantes, nós realizamos nossos sonhos? Nós somos realizadas? Nós somos felizes? Eu realmente espero que a resposta para estas três perguntas seja um sonoro sim, pois venho tentando ao máximo fazer com que isso aconteça e sei que você tentou e está tentando.

                                                                                                        De sua Eu do Presente.



(Obs: Tirei a ideia desta carta em uma propaganda do Boticário, porque todos nós não escrevemos uma carta para nossa  "futura eu" e guardamos, e algum dia enquanto estivermos remexendo em nossas coisas a encontramos e descubramos o que realmente nós fizemos de nossas vidas?) 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Uma Noite


Moreno,

   Em minha profissão não é comum que eu me envolva emocionalmente com meus clientes, mas a noite passada não sai da minha cabeça. A forma como suas mãos seguraram meu corpo, a forma que sua boca explorou cada pequena parte minha, suas palavras indecentes sussurradas em meu ouvido e a forma que você me fodeu... ninguém nunca fez igual. Em 15 minutos você me levou para o céu, tirou meu ar e me conquistou.
   Lembro perfeitamente dos seus olhos negros me fitando todo o tempo, olhos nos quais eu me perdi, olhos pelos quais me apaixonei. Enquanto você estava ali comigo, deitado ao meu lado, podia sentir que havia algo entre nós além do simples desejo, havia sentimento.
    Talvez tenha sido somente ilusão de uma mente apaixonada, mas tive a impressão que você também se sentiu envolvido por mim, que também se perdeu em meus olhos castanhos.
    Sabe o que mais mexeu comigo? A forma como enquanto você me beijava, delicadamente você me deitava na cama e retirava minha roupa. Você me tratou como uma mulher que deve ser respeitada, não como um objeto que só serve para dar prazer, como os outros homens fazem.
    Estou escrevendo esta carta enquanto te vejo dormir. Sabia que quando você dorme passa uma sensação de tranquilidade a quem está perto? Eu fico imaginando qual será sua reação ao encontrar essa carta no bolso de sua calça, se ficará tocado ou se simplesmente a rasgará e esquecerá desta noite que tivemos.
   9999-9999.


                                                                                    De sua Je.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 01

Havia sido um longo dia de treino. Nunca fora boa em lutas corporais, então Adrien havia decidido que eu deveria treinar mais. E treinar mais significava passar quase o dia inteiro na academia me matando, treinando ataque e defesa.  Peguei a chave da porta em minha bolsa, mas quando a coloquei na fechadura a porta se abriu.
   Todos meus sentidos ficaram alerta, a adrenalina percorreu meu corpo. Droga não tô afim de uma briga agora. Tateei a procura de meu revolver dentro da bolsa, destravei-o e entrei lenta e cuidadosamente em meu apartamento. Havia um cheiro diferente, um cheiro que eu não conhecia. Cítrico com um toque adocicado. Talvez seja só um ladrão.
Na pequena sala havia uma mesa de canto caída, e o vasinho que costumava ficar em cima dela estava espatifado no chão. Tirando isso nada estava diferente, continuei minha expedição pela casa, a cozinha estava intacta. Abri a geladeira e os armários, nada estava faltando. Da cozinha fui para meu quarto, o cheiro ali estava mais forte, mas nada estava fora do lugar. Não é um ladrão.
Ouvi um suspiro seguido de um gemido, vindo do meu banheiro. Ergui a arma, deixei o dedo no gatilho e entrei no banheiro. Havia alguém em minha banheira, estava todo encolhido, só podia ver seus cabelos negros.
- O que você está fazendo aqui?! - a cabeça se levantou, era um homem, tinha olhos grandes e amendoados, seu nariz era levemente torto para direita de uma forma charmosa e seus lábios cheios. Aproximei-me. Ele suava e tremia. O cheiro ácido de veneno preencheu meu olfato. Como não havia sentido logo de cara?! Estava fora de forma. - Droga! - deixei a arma em cima da pia e me aproximei dele, delicadamente toquei em sua têmpora e deitei sua cabeça para o lado, havia dois pequenos furos arroxeados em seu pescoço - Vou te levar para um lugar mais... confortável. - joguei seu braço em cima de meu ombro e o ergui. O arrastei até a sala e o ajudei a se deitar no sofá.
- Faz parar... - sua voz apesar de baixa e levemente distorcida por causa da dor, era forte e cheia de energia.
Fui à cozinha, abri o armário e peguei uma caixa, com vários pequenos frascos com líquidos de diversas cores. Li o rótulo de cada um até achar o que estava procurando. Um líquido esbranquiçado. Voltei à sala, o homem estava no mesmo lugar, mas parecia prestes a perder a consciência.
- É meio amargo, mas vai ajudara a dor passar. Com certeza é melhor que a dor que está sentindo. Abra a boca. - ele abriu relutante, deixei que cinco gotas caíssem em sua língua, ele fechou a boca, enquanto engolia fez uma careta - Agora você vai dormir e quando acordar conversaremos. - ele fez um gesto afirmativo, seus olhos agonizados de dor se fecharam lentamente. Sempre me assustava com a rapidez do efeito daquele remédio.
Sorte dele de ter esse remédio. Havia passado pelas mesmas coisas que ele estava passando e não tive nenhuma ajuda de remédios milagrosos.
Meu coração estava disparado. O sangue dentro do meu corpo corria milhões de vezes mais rápido que o normal. Meus músculos repuxavam. Parecia que estava pegando fogo. Um calor insuportável. Meus pulmões estavam cheios de ar e não conseguia expirar.  De repente não sentia nada. Nada. Uma pontada. Várias pontadas. Parecia que várias facas estavam sendo fincadas em meu corpo. Agora todo ele ardia, como se o fogo que havia me consumido tivesse passado, mas deixado meu corpo cheio de queimaduras que ardiam. O calor foi substituído pelo  frio. Como se alguém tivesse me dando um soco no estômago, todo o ar que havia em meus pulmões havia saído de uma vez. Fiquei desesperada. Era um pesadelo, mas estava de olhos abertos vendo o céu carregado de nuvens densas, mal conseguia me mover. Horas se passaram. Talvez dias se passaram. Lentamente tudo foi passando. E quando consegui realmente respirar, me mover, todo meu mundo havia mudado.
Balancei a cabeça tentando afastar aquelas lembranças de minha mente. As sensações ainda estavam em meu corpo, parecia que havia revivido tudo aquilo. Peguei um cobertor em meu armário e cobri o desconhecido no sofá.
Meu celular tocou, peguei minha bolsa que havia deixado jogada no chão ao lado da porta.
- Valentina, está tudo bem?!
- Oi Adrien, depende do ponto de vista...
- Como assim?!
- Encontrei uma surpresinha na minha banheira... Um novato.
- Como ele chegou ai?!
 - Só vou saber quando ele acordar... Neste exato momento ele está babando no meu sofá. Mas, porque resolveu me ligar?!
- Você normalmente me liga para reclamar o quanto havia pegado pesado com você enquanto bebe seu drinque. E hoje não ligou. Fiquei preocupado. - soltei um riso sarcástico o que o fez rir  - Você quer que eu vá ai para te ajudar com esse cara?! Talvez você...
- Ah Adrien, me poupe! Posso muito bem me virar sozinha.
- Sempre durona Val! Por isso que você é tão preciosa.
- Tchau Adrien, nos vemos amanhã. - tentei cortar a parte dos elogios que tanto me enchiam. Ele era um conquistador barato e nunca perdia a oportunidade de fazer elogios.
- Não posso ir ai tomar um drinque?! Não, obvio que não.
- Ainda bem que você sabe a resposta. Estou trabalhando, mas amanhã quem sabe?!
- Isso é um convite?!
- Tchau Adrien. Boa noite. - desliguei.
Coloquei o celular em cima da mesa da sala. Peguei uma taça, vinho doce e uma bolsa de sangue na geladeira. Despejei os líquidos na taça. Bebi um pequeno gole. O gelado e o doce invadiram meu paladar. Como aquilo era delicioso. Depois desceu queimando minha garganta e aliviando minha sede. Demoradamente tomei meu drinque, depois fui ao banheiro. O revolver ainda estava em cima da pia, travei-o e o guardei junto com todas as armas. Tomei um banho rápido, vesti jeans e camiseta branca com decote em V.
Olhei no relógio fazia uma hora que havia deixado o homem dormindo na sala. Fui até lá, a expressão de seu rosto havia se suavizado. Uma pequena mecha de seus cabelos pretos estava caída em seu rosto. Logo acordaria. Voltei a observá-lo, sua pele era bronzeada, cheio de músculos, aparentava ter 20 anos, minha idade antes de me transformar. Era atraente.
Ele abriu os olhos lentamente. Espreguiçou-se. Começou a olhar para os lados assustado, quando me viu se pôs em pé.
- Que lugar é esse?! Quem é você?! O que houve?! - sua voz estava cheia de energia.
- Muitas perguntas. Vamos começar pelo começo. Olá, sou Valentina, mas conhecida como Val. Respondi uma pergunta agora você me responde uma. Quem é você? - ele pareceu relutante em me responder. Sorri delicadamente. Com um sorriso era fácil extrair algo de um homem.
- John, esse é meu nome. Onde estou?! E como vim parar aqui?!
- Você está em meu apartamento. Eu é que te pergunto como você veio parar aqui?
- Não sei.
- É bom que você se lembre! - minha voz saiu ameaçadora, ele começou a negar com a cabeça, mas parou.
- E-e-eu acho que me lembro. Mas tudo parece fantasioso demais. - sorri.
- Bom, eu tenho uma leve propensão em acreditar no fantasioso.
- Estava em um beco pichando uma parede, quando alguém simplesmente pulou em cima de mim, caí no chão com força, algo perfurou meu pescoço. A pessoa fugiu. Levantei-me a procura de ajuda, caminhei sem rumo enquanto uma dor aguda percorria meu corpo, um homem veio me prestar ajuda, disse que precisava vomitar, ele me levou até um prédio... Ele me disse para pegar um caminho,  mas acabei entrando no elevador, não sei como cheguei a seu andar e nem como abri a porta. Só sei que aqui cheirava bem e me parecia certo estar aqui. Depois tudo é dor. Depois tem uma mulher que me carregou até a sala, eu disse algo e ela sumiu. Ai eu dormir.
- Entendi... Bom essa mulher era eu. Você tem família? Que more na cidade? - essa era a pior parte. Sempre. Não sobre a família. Mas a que ele começava a voltar à realidade.
- Tenho uma irmã... Porque você quer saber?! O que está havendo?! - ele parecia tão torturado que quase deu pena. Tentaria ser um pouco mais delicada. Ou não.
- Tem algo que se assemelha a um veneno na sua corrente sanguínea... esse veneno vai virar sua vida de cabeça para baixo... é veneno de vampiro.
- O que você quer dizer?!
- Que você não é mais humano... Você agora é um vampiro.